O Novo Testamento na Língua Apurinã
Brasil
Teoso Sãkire
Amaneri
Apurinã. Foto- Milton Guran, 1979
Recursos na Língua Apurinã
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O Filme Jesus na Língua Apurinã
Introdução
Dispersos em locais próximos às margens do Purus, os Apurinã compartilham
um rico complexo cosmológico e ritual. Sua história é fortemente marcada pela
violência dos dois ciclos da borracha na região amazônica. Hoje lutam pelos
direitos a algumas de suas terras que ainda não foram reconhecidas e que são
recorrentemente invadidas por madeireiros.
Nome e língua
Alguns afirmam que Apurinã – e, de forma mais antiga, Ipuriná – é uma
palavra da língua Jamamadi. A auto-denominação do grupo épopũkare (o “u” lido
entre o i e o u do português). Alguns textos antigos referem-se à palavra kãkite como
auto-denominação. Kãkitesignifica
“gente”, mas, segundo alguns Apurinã, kãkite é usado para gente no sentido de espécie humana (“eu
vi gente”, como “eu vi macaco”, “eu vi onça”), mas não no sentido de povo.
A língua Apurinã é uma da família Maipure-Aruak, do ramo Purus (cf.
Facundes, 1994). A língua mais próxima seria a dos Manchineri,
ou Piro, que habitam a bacia do alto Purus em território brasileiro e, no Peru,
principalmente a bacia do baixo Urubamba. Alguns Apurinã afirmam que eles
também compreendem um pouco da língua Kaxarari em
razão de sua saída conjunta da Terra Sagrada, segundo versa sua mitologia.
Apurinã. Boca do Acre
Localização e
população
Os Apurinã vivem em diversas Terras Indígenas, sendo duas com os Paumari do
Lago Paricá e Paumari do Lago Marahã, e uma com os índios Torá,
na terra de mesmo nome.
O território habitado pelos Apurinã, no século XIX, era o médio rio Purus
– do rio Sepatini ou do rio Paciá ao Laco. Mas os Apurinã são um povo
tradicionalmente migrante e, hoje, seu território se estende ao baixo rio
Purus, até Rondônia. Há áreas Apurinã nos municípios Boca do Acre, Pauini,
Lábrea, Tapauá, Manacapuru, Beruri, Manaquiri, Manicoré (este último na TI Torá), todas no estado do Amazonas, além de
índios Apurinã morando em várias cidades do país, e uma aldeia na Terra Indígena Roosevelt, dos índios Cinta-Larga,
com quem alguns são casados.
Os primeiros pesquisadores, viajantes e missionários a percorrer o rio
Purus, na segunda metade do século XIX, afirmavam que os Apurinã, ainda que
morassem a alguma distância da beira do rio, vinham para as margens do Purus
para pescar e apanhar tartarugas. Na época em que chegaram os não-índios,
muitos Apurinã se refugiaram no alto de igarapés, e, outros, quando trabalharam
em seringais, também moraram em locais insulados.
Os ambientes do rio Purus influenciam muito o modo de vida do Apurinã. É
importante a diferença entre terra firme e “vargem”, ou, entre partes alagáveis
e não-alagáveis. As moradias mais “centrais”, ou seja, mais para o alto de
igarapés, são sempre moradias de terra firme. Aquelas situadas na beira do rio
são, por vezes, de terra firme, por vezes de vargem, já que o rio nem sempre
alaga dos dois lados.
Na região do município de Boca do Acre, há quatro comunidades Apurinã,
sendo três próximas à BR-317: a comunidade do Km 124 e a comunidade do KM 137,
ambas na Terra Indígena BR-317, a comunidade do Km 45
na TI Boca do Acre, e a comunidade Camicuã na TI de mesmo nome, localizada bem próxima do
município.
Segundo Leôncio, cacique da comunidade do Km 124, as três comunidades,
hoje localizadas na beira da estrada, originaram-se de três sobreviventes de um
surto de sarampo, que dizimou a maloca existente na região. A sua mãe, Kamapã,
foi uma das sobreviventes, e seu nome foi dado à atual aldeia do Km 124. Maen,
outra sobrevivente, dá o nome à aldeia dos seus descendentes, na comunidade do
km 137.
É difícil estimar o número de índios Apurinã, e mesmo tratar deles de
maneira genérica, porque estão muito espalhados. Segundo a Fundação Nacional da
Saúde, os Apurinã somavam, em novembro em 2003, 4.057 indivíduos. Em 1996, só
na região de Pauini havia nas Terras reconhecidas 1.114 habitantes (Relatório
de Saúde/UNI) e cerca de 280 pessoas em terras a reconhecer (TIs Garaperi/Santa
Vitória/Lago da Vitória/Capira, Baixo Seruini, Baixo Tumiã, Sãkoã/Santa Vitória
e Mamoriá).
Deve-se considerar, ainda, que muitos Apurinã moram fora das áreas
reconhecidas, em comunidades ribeirinhas ou em cidades – Pauini, Lábrea,
Tapauá, Rio Branco e Manaus são frequentemente citadas –, e que muitos migraram
para locais distantes como Rondônia e até Rio de Janeiro ou Minas Gerais.
Apurinã do rio Peneri
Histórico do
contato
Os Apurinã tiveram contato sistemático com não-índios no contexto da
exploração da borracha. No século XVIII, o rio Purus começou a ser explorado
por comerciantes itinerantes, na busca das chamadas “drogas do sertão”: cacau,
copaíba, manteiga de tartaruga e borracha. Alguns destes itinerantes se
estabeleceram e começou a haver, então, benfeitorias para exploração, ainda no
baixo Purus. Nas décadas de 50 e 60 do século XIX houve várias expedições para
reconhecer e mapear o rio: nesta época, segundo os relatos, alguns Apurinã já
trabalhavam para os não-índios.
O rio Purus foi povoado por causa da borracha. A exploração começou na
década de 1870 e, em 1880, o Purus já estava todo povoado de não-índios. A
borracha decaiu na década de 1910, quando começou a produção asiática, com a
qual a brasileira não conseguiu competir. Sem o mercado, os seringais foram
abandonados pelos patrões. Os seringueiros e índios permaneceram, voltaram a
produzir para a subsistência (isso, muitas vezes, era proibido nos seringais) e
a vender outros produtos, como a castanha.
A borracha teve um novo boom com
a Segunda Guerra Mundial. Os Aliados precisavam de borracha, e os seringais
asiáticos estavam em poder do Eixo. Na primeira metade do século XX 50 mil
nordestinos foram transportados para o Amazonas para trabalhar como
seringueiros, denominados então “soldados da borracha”. Finda a guerra, findou
também o mercado. Após este período, os seringais foram financiados pelo
governo. A retirada dos subsídios levou a uma nova queda, em 1985.
Posto Indígena do Seruiní
Os Apurinã tiveram inserções diferentes nos seringais: grupos inteiros
foram mortos, alguns vendiam seus produtos, outros trabalharam como
seringueiros; alguns trabalharam desde o princípio, outros tiveram contato com
não-índios somente na época dos “soldados da borracha”. As histórias Apurinã
falam de massacres, torturas, da experiência de terem sido escravos, das
relações pessoais, de compadrio, das batalhas e guerras pela terra. Após a
queda da borracha, nenhum produto a substituiu com a mesma importância e
nenhuma outra estrutura de produção se estabeleceu com igual força na região.
O SPI (Serviço de Proteção aos Índios) teve um
posto no rio Seruini, afluente do Purus, entre os atuais municípios de Pauini e
Lábrea. O posto Marienê foi fundado em 1913, após conflito em que morreram
cerca de quarenta Apurinã e sete seringueiros, segundo os jornais da época. O
auge do posto, empreendimento com metas produtivistas, foi na década de 1920 e
começo de 30. Depois, o posto decaiu e foram inúmeras as acusações de
corrupção. No início da década de 1940 o posto estava desativado. O local do
posto é, hoje, a aldeia Marienê (TI
Seruini-Marienê).
O posto Marienê reuniu muitos Apurinã em um só local. De acordo com a
ideologia do SPI, sua missão era trazer os Apurinã para a “civilização”, fazendo
deles “trabalhadores úteis” ao país. O Posto Marienê é hoje relembrado por
muitos Apurinã como uma cidade em que tudo era organizado, segundo alguns
contam. Também são relembrados fatos negativos: a corrupção de seu encarregado,
que ficava com os mantimentos que deveriam ser levados ao posto, e as roupas
que os mandavam colocar somente para as fotos.
Aldeia Nova
Entre 1977 e 79, a Ajudância da Funai no Acre faz os primeiros
levantamentos na região de Pauini. No final da década de 1970, começam a haver
conflitos em torno da terra e a resistência, por parte dos índios, contra
invasões e exploração. Na região de Pauini, no igarapé do Tacaquiri, os
Apurinã, aí moradores, liderados por João Lopes Brasil – o Lopinho –, foram
contra o projeto da prefeitura de passar uma estrada por dentro da área. Nos
anos seguintes, os conflitos prosseguiram e a possibilidade da estrada é sempre
uma sombra para os moradores da TI
Peneri-Tacaquiri. Em 1995, um empate, liderado por Lopinho, impediu
nova tentativa da prefeitura de abrir a estrada. Entre os não-indígenas da
região, acusa-se velada ou abertamente os índios como responsáveis pelo
“atraso” de Pauini.
A Madeireira Nacional (Manasa) foi outra fonte de conflito. Com área
imensa, que abrangia parte da TI
Tumiã, a foz do rio Seruini e a TI Guajahã, a presença e pressão dessa
empresa levaram à aceleração do processo de demarcação da TI Guajahã.
Outra empresa com poder de pressão foi a Agro Pastoril Novo Horizonte ou
Zugmann. Localizada dentro da TI Seruini-Marienê, a empresa esteve envolvida em
conflitos que resultaram na morte de José Lopes Apurinã e em vários feridos,
alguns com sequelas permanentes. Essa empresa apresentou, posteriormente,
contestação à demarcação, o que não impediu a homologação da terra , uma vez
que a contestação foi julgada improcedente (veja também "Como é feita a demarcação hoje?").
Os trabalhos de identificação foram iniciados numa época de organização
política incipiente. Hoje, os Apurinã reivindicam áreas que não haviam ainda
sido reconhecidas, áreas em que moram, que usam, margens de igarapés ou do rio
Purus, e mesmo a cabeceira, como é o caso do Tumiã, que foi deixada de fora. Os
campos de natureza, importantes porque neles teriam morado os Otsamaneru, povo que saiu com os
Apurinã da terra sagrada, também foram incluídos só em parte no perímetro das
áreas oficiais.
Apurinã. Boca do Acre
Apurinã: Uma Língua do Brasil
Nomes alternativos: Ipurinã, Ipurinãn, Kangite, Popengare
População: 2.780 (Moore, 2006). População étnica: 6990 (2010, FUNASA).
Localização: Amazonas: Rio Purus, de Rio Branco para Manaus; Estado do Mato
Grosso.
Mapas de idiomas: Brasil Central
Estado idioma: 6b (ameaçada).
Classificação: Maipurean, Sul, Sul
Outlier, Piro
Tipologia: OSV.
Desenvolvimento da linguagem: Gramática. NT: 2004.
Recursos de linguagem: recursos
Olac em e sobre Apurinã
Escrevendo: Alfabeto latino [Latn] .
Outros comentários: A religião tradicional, Cristianismo.
Apurinã Foto- Milton Guran, 1979
Recursos dos Arquivos Abertos de
Línguas - OLAC
ISO
639-3: apu
O
catálogo combinado de todos os participantes OLAC contém os seguintes recursos
que são relevantes para esta linguagem:
Use a
pesquisa facetada para explorar
recursos para a língua Apurinã .
1. Online. Crúbadán language data for Apurinã. Kevin Scannell. 2015. The Crúbadán Project. oai:crubadan.org:apu
1. Online. Glottolog 2.7 Resources for Apurinã. n.a. 2016. Max Planck Institute for the Science of Human History. oai:glottolog.org:apur1254
2. Online. PHOIBLE Online phonemic inventories for
Apurina. n.a. 2014. Max Planck Institute for
Evolutionary Anthropology. oai:phoible.org:apu
3. Online. SAILS Online Resources for Apurinã. n.a. 2013. Max Planck Institute for Evolutionary
Anthropology. oai:sails.clld.org:apu
4. Online. Referential devices in Apurinã discourse. Aberdour, Catherine. 1985. Summer Institute of Linguistics. oai:sil.org:17063
6. Arawakan (Brazil) morphosyntax. Derbyshire, Desmond C. 1982. Work Papers of the Summer Institute of
Linguistics, University of North Dakota Session. oai:sil.org:40085
7. Online. Command in Apurinã. Pickering, Wilbur N. 1973. Associação Internacional de Linguística
- SIL Brasil. oai:sil.org:41112
8. Online. A Phonemic Analysis of the Apurinã Language. Pickering, Wilbur N.; Pickering, Ida Lou. 1964. Associação
Internacional de Linguística - SIL Brasil. oai:sil.org:41114
9. Online. Gapping and Constituent Order in Apurinã. Pickering, Wilbur N. 1973. Associação Internacional de Linguística,
SIL – Brasil. oai:sil.org:41116
10.
Online. WALS Online Resources for Apurinã. n.a.
2013. Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. oai:wals.info:apu
11.
Online. LAPSyD Online page for Apurinã. Maddieson,
Ian. 2009. www.lapsyd.ddl.ish-lyon.cnrs.fr. oai:www.lapsyd.ddl.ish-lyon.cnrs.fr:src90
1. Online. The Language of the Apurinã People of Brazil
(Maipure/Arawak). Facundes, Sidney da Silva.
2000. WALS Online RefDB. oai:refdb.wals.info:248
2. Online. A Grammar and Vocabulary of the Ipurina
Language. Polak, J. E. R. 1894. Kegan Paul
Trench, Trübner, and Company. oai:refdb.wals.info:2663
3. Online. Noun Classification Systems of Amazonian
Languages. Derbyshire, Desmond C.; Payne, Doris
L. 1990. Amazonian Linguistics, Studies in Lowland South American Languages.oai:refdb.wals.info:4073
4. Online. Relativizacao en Apurina. Pickering, Wilbur N. 1977. WALS Online RefDB. oai:refdb.wals.info:4997
5. Negação no apurinã. Pickering, Wilbur N. 1978. Arquivos de Anatomia e
Antropologia. oai:sil.org:2403
6. Jõkatxi apajaõkiko 1-3. Pickering, Ida Lou; Pickering, Wilbur N. 1972. Summer Institute of
Linguistics. oai:sil.org:16918
7. Interrogativos apurinã. Pickering, Wilbur N. 1977. Arquivos de Anatomia e
Antropologia. oai:sil.org:1650
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Object-initial
languages. Derbyshire, Desmond C.; Pullum,
Geoffrey K. 1979. Work Papers of the Summer Institute of Linguistics,
University of North Dakota Session. oai:sil.org:40086
1. Online. Description of Apurinã (Arawak). Sidney Facundes (depositor); Endangered Languages Documentation
Programme (sponsor). start=2003-01-01; end=2005-12-31;. Endangered Languages
Archive. oai:elar.soas.ac.uk:0203
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