quarta-feira, 26 de junho de 2019

Parceria FAO e OTCA (FAO)



ONU
FAO firma parceria para proteger recursos naturais e povos da Amazônia

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) firmaram nesta quarta-feira (26) uma nova parceria para trabalhar na conservação e na restauração dos recursos naturais na Amazônia. A cooperação entre os organismos prevê um diálogo permanente com as comunidades locais e os povos indígenas da região.

Vista aérea da Floresta Amazônica, próximo a Manaus (AM). Foto: Flickr (CC)/CIAT/Neil Palmer

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) firmaram nesta quarta-feira (26) uma nova parceria para trabalhar na conservação e na restauração dos recursos naturais na Amazônia. A cooperação entre os organismos prevê um diálogo permanente com as comunidades locais e os povos indígenas da região.
O acordo das duas instituições lança as bases para fortalecer a gestão sustentável de uma área que é fundamental ao equilíbrio climático do mundo. A parceria vem acompanhada de um plano de ação para superar as brechas econômicas e sociais que persistem na Amazônia.
“Os desafios da região amazônica, como os de todos os outros ecossistemas de grande importância, são tanto de caráter ambiental, social e econômico, como cultural. A Amazônia sofre ameaças que vão desde a mudança do uso do solo e da terra, o desmatamento, a implementação de certas infraestruturas sem boas práticas até o comércio ilegal da fauna e da flora”, afirmou a secretária-geral da OTCA, Alexandra Moreira Lopez, durante a assinatura do acordo.
“Essa colaboração nos ajudará definitivamente a trabalhar em áreas muito importantes, como a gestão sustentável da floresta amazônica e de seus recursos hídricos.”
A especialista ressaltou ainda a importância de proteger um ecossistema “vasto e rico em recursos naturais”, sem esquecer que ele é habitado por 40 milhões de pessoas.
“Não podemos falar apenas de uma gestão de preservação dos recursos naturais, mas, necessariamente, também temos que falar do uso sustentável da sua biodiversidade e (falar) em gerar instrumentos e ferramentas para as economias dessa região”, disse Alexandra.
A especialista defendeu a criação de oportunidades para os moradores da Amazônia, a fim de diminuir as desigualdades que existem na região e em toda a América Latina. “O trabalho conjunto permitirá que sejamos criativos na geração dessas ferramentas e na melhoria das cadeias produtivas derivadas do fornecimento de produtos da floresta e dos recursos hídricos, incluindo os produtos pesqueiros e da aquicultura.”
O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, enfatizou a importância da cooperação internacional para a proteção da Amazônia e dos seus povos.
“Acredito que todos estamos de acordo com (o fato de) que, se não unirmos esforços, não conseguiremos preservar o patrimônio fundamental que a Amazônia representa nem conservar as tradições e modos de vida que permitiram que a biodiversidade do pulmão do planeta beneficiasse não apenas os oito países da Bacia Amazônica, como também toda a humanidade”, afirmou o chefe da agência da ONU.
A FAO tem uma ampla tradição de trabalho em questões de floresta, preservação dos recursos hídricos e do meio ambiente e apoio aos direitos dos povos indígenas. O organismo é uma das organizações convidadas a dar contribuições técnicas para a Assembleia Especial para a Região Pan-amazônica, realizada pelo Sínodo dos Bispos, encontro convocado pelo Papa Francisco para outubro de 2019, no Vaticano.
A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) é uma instituição intergovernamental formada por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. A entidade incentiva o desenvolvimento sustentável e a inclusão social na Amazônia.
26 de junho de 2019 às 16:48

Texto originalmente publicado por Nações Unidas Brasil sob o título "FAO firma parceria para proteger recursos naturais e povos da Amazônia"

domingo, 16 de junho de 2019

Antigas Civilizações da Amazônia (Folha de São Paulo)

O Fim das Civilizações da Amazônia

Secas e uso excessivo de recursos




Urna funerária marajoara - Marie-Lan Nguyen/Wikimedia Commons



Da Bolívia à ilha de Marajó, sociedades complexas não faltavam na maior floresta tropical do mundo
O que caracteriza uma civilização em colapso? Diante desse tema portentoso, talvez venha à cabeça da maioria das pessoas a antiga Roma sendo engolida pelos bárbaros ou o misterioso fim das metrópoles maias. Existem exemplos igualmente interessantes, porém, bem mais perto de nós, em vários pontos da Amazônia.
Sim, a Amazônia, aquele lugar no qual quase todo mundo pensa quando vê memes falando da época “em que aqui era tudo mato”. Tudo mato, vírgula, gentil leitor.
Por volta do ano 1000 da Era Cristã, num arco gigantesco que ia da Bolívia à ilha de Marajó, sociedades complexas e populosas não faltavam na região correspondente à maior floresta tropical do mundo. Entretanto, antes mesmo do impacto apocalíptico da invasão europeia a partir do século 16, várias dessas sociedades sumiram do mapa. A pergunta que não quer calar é, obviamente: por quê? 
Uma tentativa ambiciosa de elucidar esse mistério está prestes a ser publicada na revista científica Nature Ecology & Evolution. Os responsáveis pelo estudo são membros de uma equipe internacional de cientistas, coordenada pelo arqueólogo brasileiro Jonas Gregorio de Souza, da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona.
O time de pesquisadores resolveu examinar a intersecção entre a organização econômica e social desses antigos grupos amazônicos, de um lado, e as idas e vindas do clima, de outro. Para isso, valeram-se de dados obtidos a partir de sedimentos do fundo do Atlântico e de um lago dos Andes, bem como de estalagmites de cavernas no Brasil. Flutuações na composição química dessas amostras funcionam como um calendário das alterações climáticas enfrentadas pela Amazônia ao longo dos séculos.  
Para entender as conclusões da análise, vale a pena considerar as sociedades pré-colombianas nas pontas leste e oeste da Amazônia. Do lado oriental, temos a cultura que dominou a ilha de Marajó (PA) entre os anos 400 d.C. e 1200 d.C., mais ou menos. Esse povo construiu morros artificiais como forma de se adaptar às enchentes periódicas da ilha. Nessas grandes plataformas, havia aldeias com população numerosa e rituais funerários cheios de pompa, que deixaram para trás uma cerâmica sofisticada. Os antigos marajoaras tinham ainda represas nas quais praticavam a criação intensiva de peixes.
Já no oeste, do lado boliviano, os habitantes dos chamados Lhanos de Moxos também lidavam com um ambiente relativamente aberto e periodicamente inundado, como Marajó, mais ou menos na mesma época. Construíram intrincados sistemas de canais e campos elevados para uso agrícola, o que parece ter levado ao controle desses recursos por uma elite.
Quando ondas de seca se abateram sobre a região, o que aconteceu com ambas essas sociedades poderosas? Sim, você adivinhou: colapso. Ao que parece, a dependência do uso intensivo de recursos hídricos e agrícolas e as hierarquias rígidas aumentaram a vulnerabilidade desses grupos às flutuações do clima.
Ao mesmo tempo, porém, as aldeias monumentais do Alto Xingu, com suas fortificações e estradas largas, e a “metrópole” que existia onde hoje fica Santarém (PA), sobreviveram. Esses locais resistiram ao colapso porque teriam baseado sua economia em sistemas agroflorestais - basicamente, florestas com espécies selecionadas para uso humano, suplementadas com lavouras mais modestas. Era uma estratégia mais conservadora, voltada para o longo prazo, e não para os ganhos de curto prazo.
Reinaldo José Lopes, 16 de junho de 2019 às 02:00

Texto originalmente publicado pela Folha de São Paulo sob o título "Secas e uso excessivo de recursos podem explicar fim de civilizações da Amazônia"