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quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Amazonas: o Maior Rio do Mundo (G1)

 

Primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado 

 

Primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado.

O primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado há poucos meses do outro lado do oceano.

Amazonas — um dos maiores rios do mundo — é o protagonista desta relíquia do cinema mudo brasileiro. O primeiro longa-metragem produzido na Amazônia nunca foi exibido no Brasil. Silvino Santos, um português radicado em Manaus, começou as filmagens em 1918.

“Um dos cineastas pioneiros em se filmar a Amazônia e é um dos cineastas mais reconhecidos desse período na história do cinema brasileiro”, diz Sávio, pesquisador da UFPA.

Em dois anos, o cineasta registrou a cultura, o cotidiano e a biodiversidade amazônica. Como a comercialização de produtos da floresta no mercado do ver o peso, em Belém.  

O cineasta acompanhou a coleta de castanha, a produção de pirarucu e a pesca de peixe-boi — hoje, espécie ameaçada de extinção. O longa também mostra a Ilha do Marajó e a relação dos indígenas peruanos com a natureza. E, em Manaus, a imponência do Teatro Amazonas.

Quando o filme ficou pronto, em 1920, Silvino Santos encarregou um procurador de promover o longa-metragem na Europa. Mas pesquisadores descobriram que ele enganou o cineasta e passou a se apresentar como autor do filme. O longa-metragem foi vendido ilegalmente, recebeu até outro nome: “As Maravilhas do Amazonas” — e fez muito sucesso.

“A gente tem notícia que esse filme foi vendido para a Gaumont, que é uma distribuidora francesa e, a partir desse momento, esse filme começa a passar e ser exibido em diversos países, na França, na Itália, na Tchecoslováquia, na Espanha, na Inglaterra também, por quase uma década”, conta Sávio.

 

Primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado — Foto: Jornal Nacional/Reprodução


Klára Trsková trabalha na curadoria da Cinemateca de Praga, na República Tcheca. Era no acervo que estava a obra perdida de Silvino Santos. Por aqui, achavam que se tratava de um filme norte-americano.

“A minha colega Ivona ela é especialista no cinema mudo e ela viu que a estética dos filmes norte-americanos dos anos 20 não correspondia a este filme”, diz Klára.

A Cinemateca pediu ajuda de um curador italiano. Jay Weisseberg entrou em contato com o professor Sávio, no Brasil, e a verdade veio à tona, em 2023.

“Eu comecei a pesquisar e localizar documentos importantes, fotográficos, textuais, do que foi esse filme e dessa circulação na Europa. E foram esses documentos que permitiram essa identificação dessa cópia que foi achada na Cinemateca Tcheca”, conta Sávio.

O festival de cinema mudo Pordenone, na Itália, exibiu o filme e homenageou Silvino Santos. Pela primeira vez, o longa foi apresentado com o título original: Amazonas — o Maior Rio do Mundo.

“Foi realmente uma experiência impressionante e maravilhosa para mim se conectar com um filme tão importante para o Brasil”, diz o curador italiano Jay Weissberg.

“Todas essas imagens são um documento e têm um valor muito grande para a gente se compreender outras épocas e para a gente pensar também o nosso tempo. Que avanços a gente teve em termos de proteção da natureza, de relação com povos originários, é um documento muito importante para a gente pensar sobre essas diferenças entre as épocas”, diz Sávio Stocco.

 

G1

Jornal Nacional

23 de novembro de 2023 às 21h43

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Direito Real de Uso (Dia a Dia)

 Ribeirinhos ganham direito inédito de uso da terra no Amazonas após 16 anos de luta

Em março, 15 comunidades ribeirinhas do Rio Manicoré, no Amazonas, conquistaram, de maneira coletiva, uma Concessão de Direito Real de Uso (CDRU); é a primeira vez que isso ocorre no Estado.


 

Porto de comunidade ribeirinha no Rio Manicoré. Foto: Valdemir Cunha/Greenpeace

 

Liderados por uma professora e uma agricultora familiar, 15 comunidades tradicionais das florestas públicas de Manicoré, município no sul do Amazonas, conquistaram em março o reconhecimento e o direito de uso coletivo do território após 16 anos de luta. É a primeira vez na história do Amazonas que povos tradicionais ganham uma Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) coletiva por tempo indeterminado.

Também é a primeira vez que a concessão é aplicada a famílias que não vivem em uma unidade de conservação. A reportagem é da Mongabay.

“Criamos o Território de Uso Comum do Rio Manicoré, uma experiência inédita de proteção”, diz o procurador do Estado Daniel Viegas, chefe da Procuradoria do Meio Ambiente, explicando que, para emitir a CDRU aos ribeirinhos do Rio Manicoré, o governo amazonense teve que alterar a legislação fundiária estadual.

 

Parte destes ribeirinhos luta, desde 2006, para que o território seja transformado em Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Mas, por medo e desinformação espalhados por madeireiros e grileiros, a maioria dos comunitários não aprova a reserva.

 

Formado por um mosaico de três Terras Indígenas, nove Unidades de Conservação e quase 9 mil km2 de florestas públicas não destinadas (é nesta área que vivem os ribeirinhos), a região do Rio Manicoré é uma das mais preservadas da Amazônia brasileira.

Além da preservação ambiental de uma área de extrema importância para a Amazônia, a CDRU ajudará a manter o modo de vida tradicional dos cerca de 4 mil ribeirinhos que vivem no território, entre extrativistas, agricultores familiares e artesãos de canoa e remo.

“O Manicoré vive do açaí, castanha, tucumã, banana, cacau e da roça. Vivem todos bem, do que a natureza dá, sem desmatar”, afirma a agricultora familiar Maria Clea Delgado, presidenta da Central das Associações Agroextrativistas do Rio Manicoré (Caarim), uma das responsáveis pela conquista da Concessão.

 

Mulher ribeirinha na região do Rio Manicoré; moradores se deslocam pelo território por meio de canoas e barcos. Foto: Nilmar Lage/Greenpeace

 

Quando a Mongabay visitou as comunidades, em junho, os comunitários se preparavam para a Festa do Açaí da comunidade do Estirão, a uma hora de barco do município de Manicoré.

“Todo mundo planta açaí aqui”, diz o agroextrativista Manoel Tomé Correa, exibindo com orgulho a pequena plantação de açaí da família — que inclui tios, os pais, dois irmãos e os sobrinhos, todos vizinhos.

 

“A Festa do Açaí do Estirão é a melhor festa do Rio Manicoré, um dia e uma noite de festa. Tem forró, tem a dança do açaí. Todo o dinheiro conseguido na festa vai para a nossa associação comunitária”, conta o agroextrativista.

 

Toda a família de Manoel nasceu na comunidade e trabalha coletando açaí, castanha e andiroba. Do açaí, eles fazem o suco e o creme; da andiroba, extraem o famoso óleo do fruto, usado para quase tudo no Amazonas: de repelente natural a remédio para curar dor de garganta. Tudo o que colhem e coletam do próprio quintal é vendido em Manicoré ou para atravessadores que percorrem o rio em busca dos produtos da floresta.

“Tem que preservar a floresta para depois não faltar. Aqui, a gente vive tranquilo. Mas estão destruindo aí para dentro, a gente ouve. Se destruírem, como vamos sobreviver?”, diz Manoel, que nunca saiu da comunidade.

Para a gestora ambiental Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, a CDRU é uma importante conquista na luta dos povos do Rio Manicoré.

 

“Apesar de a CDRU não ser um instrumento de conservação ambiental, ela tem objetivos que se aproximam dos de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, como a garantia da permanência das populações tradicionais e a manutenção das suas atividades sustentáveis, além do próprio reconhecimento do território”, explica Mazzetti.

 

O procurador do Estado Viegas concorda. “Por meio da regularização fundiária, a Concessão de Direito Real de Uso produz efeitos sobre a proteção ambiental, já que o texto da CDRU traz limites para a exploração no território”, afirma.

De acordo com a Lei n 9985 de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), populações tradicionais que vivem em reservas, florestas nacionais e demais unidades de conservação podem fazer uso dos recursos naturais de forma racional e desenvolver atividades econômicas sustentáveis, como o extrativismo, mas fica proibida a caça e a pesca profissional e a exploração dos recursos minerais.

 

O agricultor Manoel Tomé Correa mostra o óleo de andiroba feito pela família em uma comunidade no Rio Manicoré. Foto: Nilmar Lage/Greenpeace

 

“Balsas de madeira entram e saem toda semana”

Apesar da conquista, o objetivo da Caarim, formada por parte dos 4 mil ribeirinhos que habitam a área, é o de transformar a região em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS).

“Lutamos para que aqui seja uma RDS por causa das invasões e do desmatamento no nosso território. Queremos proteção”, explica a professora municipal Marilourdes Cunha da Silva, fundadora da Caarim.

Quem navega pelas águas que cortam a extensão territorial do município de Manicoré consegue avistar balsas que chamam atenção pelos nomes — Dona Raimunda, Fátima, Rosa —, mas também pela quantidade de toras de madeira que carregam. Algumas também levam gado e tratores.

“Tem muito madeireiro na região oferecendo dinheiro para a gente cortar árvores nativas. Por um angelim desse tamanho, estão pagando 400 reais”, conta um ribeirinho ao avistar um angelim de cerca de 30 metros de altura, nativo da região e cobiçado pelos madeireiros. “Tem gente que aceita cortar porque é um dinheiro rápido, mais rápido que plantar uma roça e ter que esperar meses para colher”, diz o morador, que por segurança não será identificado.

“Balsas com madeira entram e saem daqui toda semana. Três, quatro balsas carregadas de madeira saindo do Rio Manicoré toda sexta-feira. Isso [vem acontecendo] mesmo depois da CDRU”, relata uma moradora. Por segurança, ela também não será identificada.

Na altura do Rio Madeira, nas margens da área urbana de Manicoré, há, ainda, dragas de garimpo revirando o solo e poluindo as águas do rio.

 

Balsa com toras de madeira no Rio Manicoré em agosto de 2022. Foto: Central das Associações Agroextrativistas do Rio Manicoré (Caarim)

 

“Já me ofereceram trabalho aí nessas balsas de garimpo do Madeira, mas eu disse não. Depois disso, uns homens apareceram na porta de casa com um amigo meu para tentar me convencer”, conta um ribeirinho que nasceu em uma das comunidades e hoje vive na área urbana.

 

De fato, o trânsito de balsas demonstra que a paisagem preservada das florestas de Manicoré tem mudado na última década: o território por onde se estende o município registrou mais de 150 km2 desmatados apenas no primeiro semestre de 2022. A quantidade já é maior que o desmatamento ocorrido nos doze meses de 2021, quando o município bateu recorde histórico, com 134,7 km2 devastados, segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes/Inpe).

 

“A gente já fotografou [as balsas de madeira], mandou para o MPF, fez ofício pedindo para fiscalizar e nunca recebemos nenhuma resposta. É por isso que queremos que essa área seja uma RDS, para frear esse desmatamento”, diz a presidenta da Caarim, Maria Clea.

 

Quanto ao garimpo, dados da Agência Nacional de Mineração levantados pela Mongabay mostram que existem 19 requerimentos de lavra garimpeira para uso industrial ativos em Manicoré.

Sobre as denúncias, a reportagem procurou o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Ministério Público do Amazonas. O IBAMA não respondeu os questionamentos e o MP-AM afirmou que as denúncias dos comunitários são objeto de inquérito civil no Ministério Público Federal.

“Agora, estamos preocupados em como será o desmatamento nesse semestre. Estamos vendo que se os próximos meses forem igual a maio e abril, os desmatadores virão com tudo”, diz Clea.

Em março, mês em que o território do Rio Manicoré passou a ser protegido pela CDRU, o Greenpeace flagrou um desmatamento de 1.900 hectares no meio da floresta nativa. Em agosto, a organização voltou a sobrevoar a região e registrou uma queimada de grandes proporções na área desmatada, cuja fumaça chegou inclusive a encobrir o céu de Manaus, a cerca de 330 quilômetros dali.

 

Queimada registrada em agosto de 2022 dentro da CDRU do Rio Manicoré em área desmatada em março. Foto: Christian Braga/Greenpeace

 

O levante de mulheres ribeirinhas

Maria Clea e Marilourdes lutam há 16 anos pela criação da RDS do Rio Manicoré. Elas se conheceram ao acaso em 2006, durante um deslocamento de voadeira, espécie de canoa motorizada, pelo Rio Manicoré — os rios funcionam como ruas e estradas para os ribeirinhos, uma vez que não há vias terrestres que liguem uma comunidade a outra. Algumas comunidades estão a horas de barco da sede do município.

“Começamos a conversar sobre a situação do Manicoré e descobrimos que nós duas tínhamos criado associações em nossas comunidades. Pensamos: ‘Por que a gente não cria uma associação geral?’”, conta Clea, conhecida na região por histórias como a vez em que entregou nas mãos do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta pedindo energia elétrica para as comunidades do Rio Manicoré.

Antes de fundarem oficialmente a Caarim, o primeiro passo da dupla foi descobrir “quem era o dono do rio”, como diz Clea, uma vez que os ribeirinhos que habitam o local há décadas não têm escritura das terras por essas serem florestas públicas não destinadas.

“Descobrimos que as terras são do estado (Amazonas) e buscamos orientação do Incra para saber o que poderia ser feito para nos proteger. Foi aí que nasceu a ideia de se criar uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável”, explica a agricultora.

A professora Marilourdes lembra com orgulho que, quando nasceu a Central das Associações, ribeirinhos de todas as comunidades apoiavam a criação da reserva.

“Nos primeiros anos, nossas reuniões tinham mais de 400 ribeirinhos, mas lá por volta de 2014, começou um movimento contrário. Começaram a espalhar uma conversa de que, se fosse aprovada a reserva, o ribeirinho seria proibido de caçar, pescar, tirar madeira para construir sua casa ou canoa, essas coisas. O comunitário ficou com medo de perder suas terras e a luta foi retrocedendo”, diz Marilourdes.

Segundo as lideranças, os boatos foram espalhados por políticos da região e pessoas ligadas a madeireiros ilegais vindos de Santo Antônio de Matupi, distrito de Manicoré.

A tensão entre apoiadores e não apoiadores piorou em 2015, quando aconteceu uma audiência pública sobre a proposta de criação da RDS do Rio Manicoré e a maioria dos presentes foi contra. “Fomos impedidas de falar nessa audiência pública”, afirma Clea.

Comunitários que apoiavam a Caarim na época relataram ter sofrido intimidações de anônimos, como ter suas voadeiras empurradas no rio para longe de suas comunidades.

O episódio conseguiu desarticular por cerca de quatro anos a luta da professora e da agricultora.

“De 2015 para cá, aumentou muito a grilagem de terras, a pesca ilegal, a extração de madeira da floresta. Os madeireiros colocaram a motosserra para funcionar quando viram que aquela audiência pública não deu em nada”, diz Clea.

 

Considerada uma das áreas mais preservadas da Amazônia, Manicoré tem registrado recordes de desmatamento desde 2015; no primeiro semestre de 2022, foram mais de 150 km2 de vegetação nativa cortados.

 

Dia a Dia Notícia

01 de setembro de 2022 às 12:56hs

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Cheias no Amazonas (Folha de São Paulo)

  

Cheias no Amazonas

Impulsionado pelas mudanças climáticas, rio Negro registra cheia histórica em Manaus

 

Principal cidade da Amazônia, Manaus registrou nesta terça-feira (1º) a maior cheia desde o início das medições no rio Negro, há 119 anos. Por causa das mudanças climáticas, seis das dez maiores cheias nesse período ocorreram no século 21.

A capital amazonense já sofre com inundações há um mês. A cota de inundação severa (29 metros) foi ultrapassada no dia 30 de abril. A previsão é de que a situação se estabilize e que as águas comecem a baixar em breve, um processo longo que deve levar algumas semanas. As medições e os alertas de cheia são de responsabilidade do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM).

No centro, algumas ruas da região do porto estão interditadas. A prefeitura montou passarelas sobre as calçadas e vias alagadas e transferiu a tradicional feira de peixes para uma balsa. Já os comerciantes improvisaram barreiras com sacos de areia e vêm jogando cal na água parada para tentar neutralizar o cheiro insuportável de fezes.

 

População caminha sobre madeira no centro de Manaus em meio a cheia recorde do rio Negro - Alberto César Araújo/Amazônia Real

 

Nos igarapés, o represamento das águas pelo rio Negro provoca um acúmulo de lixo, que em alguns trechos chega a cobrir toda a superfície. Os moradores mais próximos dependem de pinguelas estreitas para transitar e, dentro das casas, lançam mão de plataformas de madeira (marombas) para suspender móveis e eletrodomésticos em meio ao fedor.

Segundo a Defesa Civil, cerca de 450 mil pessoas foram afetadas pelas cheias no Amazonas, o equivalente a 10% da população do estado. A cheia atingiu 58 dos 62 municípios amazonenses. Um deles, Anamã, no rio Solimões, está com todo o casco urbano alagado há algumas semanas.

Além de Manaus, foram registradas cheias recordes em Parintins (rio Amazonas), em São Gabriel da Cachoeira (rio Negro) e em Manacapuru (rio Solimões).

Pesquisa do Instituto Igarapé publicada em 2018 mostrou que o Amazonas é o estado do país com o maior número de pessoas deslocadas em decorrência de fenômenos naturais desde o ano 2000, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Foram 840.252 deslocados ao longo de 18 anos, dos quais 84% em decorrência de inundações. Manaus apareceu como a 6ª cidade com maior número de desabrigados e desalojados por desastres naturais do país: 59.756, dois quais 81% vítimas de enchentes.

Responsável pelo sistema de alerta hidrológico do Amazonas, a pesquisadora em geociência do Serviço Geológico Luna Gripp afirma que não há dúvidas de que os eventos extremos estão se tornando mais frequentes.

“Em menos de três anos, já repetimos um evento que deveria ocorrer a cada 50 anos, se considerarmos o que ocorria antigamente”, diz Gripp, ao lembrar que houve uma grande cheia em 2009, logo superada pela de 2012. "Os movimentos extremos estão mais frequentes e também cada vez com maiores magnitudes”.

Uma diferença neste ano, segundo a pesquisadora, é que as chuvas acima da média no início do ano atingiram simultaneamente as cabeceiras do rio Negro e do Solimões, os principais afluentes do rio Amazonas. O resultado é que tanto São Gabriel quanto Parintins registraram níveis recordes, apesar de estarem a 1.172 km de distância, em linha reta.

 

Cheia do rio Negro provoca alagações no bairro do Educandos, em Manaus - Alberto César Araújo - 24.mai/Amazônia Real

 

“A frequência das grandes enchentes está aumentando, assim como a frequência de grandes vazantes”, corrobora o ecólogo Philip Fearnside, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), que atribui as mudanças ao aquecimento global.

No longo prazo, o pesquisador afirma que um dos fatores que mais impactam a mudança no regime de chuvas na Amazônia é a chamada Circulação Walker.

Desde os anos 1990, o aumento da temperatura no Atlântico Sul vem intensificando a circulação de vento de leste para oeste, causado pela diferença de temperatura da superfície do Atlântico Sul e a parte leste do Pacífico, que está ficando mais fria, aumentando essa amplitude.

São esses ventos vindos do Atlântico que transportam o vapor d’água que gera chuva para a Amazônia. Com a intensificação da Circulação Walker, a tendência é de que entre ainda mais água na maior bacia hidrográfica do mundo, segundo Fearnside.

 

Centro de Manaus durante cheia histórica do rio Negro - Michael Dantas/France Presse

 

Por outro lado, o desmatamento tende a diminuir as chuvas na Amazônia, mas esse é um fenômeno mais paulatino e regionalizado, afirma o pesquisador. Ele cita o caso do rio Tocantins, cuja bacia já está bastante desmatada.

Nesse caso, ocorre um paradoxo: ao mesmo tempo em que a supressão de árvores diminui a precipitação pluviométrica, a ausência da cobertura vegetal faz com que a água das chuvas escoe rapidamente para os rios, aumentando as cheias.

Não é o caso da enchente de Manaus, provocada tanto pelo rio Negro quanto pelo Solimões, que represa o primeiro no Encontro das Águas, a alguns quilômetros do centro. Longe de grandes estradas e do agronegócio, ambas bacias ainda sofrem pouco com o desmatamento da floresta amazônica.

 

Folha de São Paulo

Fabiano Maisonnave

02 de junho de 2021 às 10h06

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Importância da Amazônia (Conhecimento Científico)

Amazônia
Importância, riscos e curiosidades

Em 1950, o governo brasileiro criou o conceito de Amazônia Legal, o que abrangeu quase 5 milhões de quilômetros quadrados (dois terços do país) com o objetivo de desenvolver e integrar a região por meio de incentivos fiscais. 
A Amazônia Legal situa-se nos estados do Pará, Rondônia, Acre, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e Amazonas, além de grande parte do Maranhão. A floresta amazônica abrange 40% do território brasileiro e também algumas porções dos territórios da Bolívia, Suriname, Guiana Francesa, Equador, Venezuela, Guiana e Colômbia.
Cientificamente, ela é chamada de floresta latifoliada equatorial por apresentar uma vegetação com folhas largas e grandes e ser localizada próxima a região do Equador.

Amazônia e sua importância
Há muito tempo, a Amazônia é reconhecida como uma grande fonte de reservas naturais e um grande repositório de serviços ecológicos, sendo útil e importante não somente para as comunidades locais e indígenas que ali vivem, mas também como fonte de recursos para o mundo inteiro.
A Amazônia é uma das poucas florestas tropicais preservadas no mundo. Sua biodiversidade é estudada por pessoas do mundo inteiro, porém, à medida que as queimadas nas florestas vão ocorrendo, juntamente com o processo de desmatamento da própria Amazônia, os processos ecológicos que ali acontecem vão sendo destruídos.
A Amazônia constitui-se no maior bioma do Brasil: um território de 4,196.943 milhões de quilômetros quadrados (IBGE, 2004) com 2.500 espécies de árvores (um-terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul), o que traz à tona sua grande importância.
  
Floresta Amazônica

O conjunto de ecossistemas interligados pela floresta amazônica é chamado de domínio ecológico amazônico, que abrange Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Bolívia e Guiana, estendendo-se por 6,9 milhões de quilômetros quadrados.
Cerca de 30% das espécies existentes do planeta se localizam no bioma amazônico, sendo portanto, o mais biodiverso de todos os biomas. No Brasil, mais de 30 mil espécies de plantas, 1,3 mil espécies de aves, 311 espécies de mamíferos, 163 espécies de anfíbios e 1,8 mil espécies de peixes são abrigados na Amazônia. Entre eles estão: Boto, Harpia, Pirarucu, Onça, Suçuarana, Jaguatirica, Jabuti, Ariranha, Tucano e Jiboia.

O grande bioma

Eventualmente, se vê através dos noticiários cada vez mais casos de desmatamentos. Portanto, o futuro da Amazônia está correndo risco. Isso se dá devido às diversas atividades predatórias, como a extração da madeira, a mineração e conversão da floresta amazônica em pastagens para o gado e agricultura.
Entretanto, mesmo que os esforços pela Amazônia estejam acontecendo a perda anual da cobertura florestal permanece em níveis alarmantes. Como resultado, pode ocorrer uma turbulências nas mudanças climáticas da Amazônia que podem influenciar negativamente na redução das chuvas e no aumento das secas. Como resultado, haverá um grande impacto na biodiversidade da região e até nas mudanças climáticas que envolvem o mundo inteiro.
Apesar dos riscos, uma boa notícia é que 80% da floresta amazônica original permanece praticamente intacta. Por isso, ainda há chance de cuidar desse patrimônio de imenso valor para toda a humanidade.

Fogo no Amazonas

Curiosidades sobre a Amazônia

·         Os cientistas calculam que ela exista há, pelo menos, 55 milhões de anos. 
·         Cerca de 400 bilhões de árvores de 16 mil espécies diferentes crescem na floresta. 
·         Existem formigas na Amazônia — do gênero Polyergus — que não só atacam colônias vizinhas como também capturam as inimigas e as levam como escravas. 
·         Há borboletas na Amazônia que bebem as lágrimas das tartarugas da espécie Podocnemis unifilis. 
·         Estima-se que 20% do oxigênio do mundo seja produzido pela Floresta Amazônica.
·         Os primeiros habitantes da floresta amazônica começaram a ocupar a região há, pelo menos, 11,2 mil anos.
·         Existe uma teoria de que a Amazônia seria um enorme pomar deixado por uma antiga civilização que floresceu na região há quase 3 mil anos.
·         Acredita-se que a Amazônia sirva de lar para 2,5 milhões de espécies de insetos e, desses, mais da metade vive nas copas das árvores. 
·         Ainda existem tribos indígenas isoladas e que nunca tiveram contato com civilizações modernas vivendo na Amazônia.
·         A areia do Deserto do Saara é levada pelo vento até a Amazônia — onde é depositada e recarrega os minerais e, assim, ajuda a fertilizar a floresta.

Izis Sousa, 06 de fevereiro de 2020 às 06:00
Fontes: Ecycle, OrgBr, MMA, WWF, MegaCurioso
Imagens: Teatur
(Texto revisado e corrigido por PLVMA)