sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Censo 2022 (G1)

 

Censo 2022:

Santa Isabel do Rio Negro, no AM, é a segunda cidade do Brasil com maior proporção de indígenas.

 

Indígenas em Santa Isabel do Rio Negro. — Foto: Divulgação/Foirn


O município de Santa Isabel do Rio Negro, no interior do Amazonas, tem a segunda maior proporção de indígenas do país, de acordo com dados do Censo de 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (22).

Na cidade, que tem 14.164 moradores, 96,2% da população se autodeclara indígena — 13.625 pessoas.


Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas. — Foto: Divulgação


O município amazonense fica atrás apenas de Uiramutã, em Roraima, que tem a proporção de 96,60%, e é a cidade com maior proporção de indígenas do país.

Além de Santa Isabel do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, Amaturá e São Paulo de Olivença estão no ranking das cidades com maior proporção de indígenas do país.

Veja o ranking:

Veja as dez cidades brasileiras com maior proporção de autodeclarados indígenas - Foto: Editoria de Artes/G1


População indígena no Amazonas

Amazonas concentra a maioria dos indígenas do país, com 28,98% da população. Os dados são do Censo 2022 e foram divulgados pelo IBGE.

Manaus, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga, todas no Amazonas, têm o maior número de indígenas do país. No ranking das 10 cidades brasileiras com a maior quantidade de indígenas, o Amazonas tem mais três cidades: São Paulo de Olivença, Autazes e Tefé.

Além disso, Censo aponta que o Amazonas é o estado que possui mais indígenas residentes em terras indígenas.

De acordo com o Censo 2022, o Amazonas registrou 490.854 indígenas. O estado, onde a população total de pessoas cresceu 13,12% em mais de 10 anos, ocupa a primeira colocação do ranking.


Por G1 AM.

22 de dezembro de 2023 às 13h51.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Amazonas: o Maior Rio do Mundo (G1)

 

Primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado 

 

Primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado.

O primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado há poucos meses do outro lado do oceano.

Amazonas — um dos maiores rios do mundo — é o protagonista desta relíquia do cinema mudo brasileiro. O primeiro longa-metragem produzido na Amazônia nunca foi exibido no Brasil. Silvino Santos, um português radicado em Manaus, começou as filmagens em 1918.

“Um dos cineastas pioneiros em se filmar a Amazônia e é um dos cineastas mais reconhecidos desse período na história do cinema brasileiro”, diz Sávio, pesquisador da UFPA.

Em dois anos, o cineasta registrou a cultura, o cotidiano e a biodiversidade amazônica. Como a comercialização de produtos da floresta no mercado do ver o peso, em Belém.  

O cineasta acompanhou a coleta de castanha, a produção de pirarucu e a pesca de peixe-boi — hoje, espécie ameaçada de extinção. O longa também mostra a Ilha do Marajó e a relação dos indígenas peruanos com a natureza. E, em Manaus, a imponência do Teatro Amazonas.

Quando o filme ficou pronto, em 1920, Silvino Santos encarregou um procurador de promover o longa-metragem na Europa. Mas pesquisadores descobriram que ele enganou o cineasta e passou a se apresentar como autor do filme. O longa-metragem foi vendido ilegalmente, recebeu até outro nome: “As Maravilhas do Amazonas” — e fez muito sucesso.

“A gente tem notícia que esse filme foi vendido para a Gaumont, que é uma distribuidora francesa e, a partir desse momento, esse filme começa a passar e ser exibido em diversos países, na França, na Itália, na Tchecoslováquia, na Espanha, na Inglaterra também, por quase uma década”, conta Sávio.

 

Primeiro filme rodado na Amazônia passou quase um século desaparecido antes de ser recuperado — Foto: Jornal Nacional/Reprodução


Klára Trsková trabalha na curadoria da Cinemateca de Praga, na República Tcheca. Era no acervo que estava a obra perdida de Silvino Santos. Por aqui, achavam que se tratava de um filme norte-americano.

“A minha colega Ivona ela é especialista no cinema mudo e ela viu que a estética dos filmes norte-americanos dos anos 20 não correspondia a este filme”, diz Klára.

A Cinemateca pediu ajuda de um curador italiano. Jay Weisseberg entrou em contato com o professor Sávio, no Brasil, e a verdade veio à tona, em 2023.

“Eu comecei a pesquisar e localizar documentos importantes, fotográficos, textuais, do que foi esse filme e dessa circulação na Europa. E foram esses documentos que permitiram essa identificação dessa cópia que foi achada na Cinemateca Tcheca”, conta Sávio.

O festival de cinema mudo Pordenone, na Itália, exibiu o filme e homenageou Silvino Santos. Pela primeira vez, o longa foi apresentado com o título original: Amazonas — o Maior Rio do Mundo.

“Foi realmente uma experiência impressionante e maravilhosa para mim se conectar com um filme tão importante para o Brasil”, diz o curador italiano Jay Weissberg.

“Todas essas imagens são um documento e têm um valor muito grande para a gente se compreender outras épocas e para a gente pensar também o nosso tempo. Que avanços a gente teve em termos de proteção da natureza, de relação com povos originários, é um documento muito importante para a gente pensar sobre essas diferenças entre as épocas”, diz Sávio Stocco.

 

G1

Jornal Nacional

23 de novembro de 2023 às 21h43

domingo, 27 de agosto de 2023

Exposição: OMEIR (Portal Careiro)

 

MIR-Iranduba

Exposição “Bíblia do Manual ao digital” com Tião Queiroz

 

Palestrante Tião Queiroz

 

Iranduba/AM – Ontem (26/08) estivemos no “Café da Comunhão” organizado pela Ordem dos Ministros Evangélicos de Iranduba (OMEIR), o evento foi realizado no Templo do Ministério Internacional da Restauração – (MIR-Iranduba).

O evento reuniu pastores, pastoras, bispos, apóstolos e líderes de várias denominações evangélicas, além de autoridade do município como o vice-prefeito de Iranduba Robson Adriel e demais autoridades do município e convidados.

Palestrante Tião Queiroz: O Professor, jornalista, escritor e palestrante Sebastião Queiroz apresentou o Projeto “Exposição da Bíblia do Manual ao Digital que aborda os temas: Alfabeto Hebraico e seus significados, Evolucionismo X Criacionismo, como surgiu a bíblia (da pedra ao digital). 


 

Apoio: Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) – Participou do evento o Pr. Dimanei Lisboa, Coordenador Regional de Vendas da SBB nos Estados do Acre, Rondônia, Amazonas e Roraima. Cada casal presente recebeu uma Bíblia de Estudo do Expositor ofertada gratuitamente pelo Projeto de Evangelização do Ministério Canaã em parceira com o Ministério Jimmy Swaggart. 


 

Pastora Renilda: O Palestrante Tião Queiros falou ao Portal do Careiro “Esta é a quarta vez que eu venho ao Município de Iranduba a convite da Pastora Renilda Santos do Ministério Metodista, uma mulher de Deus que faz um trabalho social muito bacana, com mulheres, idosos, crianças. A pastora Renilda desenvolve ainda um bonito trabalho em comunidades indígenas levando ranchos e apoio aos nossos irmãos indígenas.” Concluiu Tião Queiroz.

 

Pastora Renilda Santos do Projeto Luz e Vida: Missão Amazônia.
Ação social com crianças indígenas no Amazonas.

 

Originalmente publicado pelo Portal do Careiro

27 de agosto de 2023

Brito (Redação)

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Língua Indígena (G1)

 

Amazonas passa a ter 16 línguas indígenas oficiais

Yanomami está entre as línguas oficiais do Amazonas — Foto: GETTY IMAGES


O Amazonas agora tem 17 línguas oficiais, 16 delas indígenas. Uma lei estadual que reconhece os novos idiomas foi assinada na quarta-feira (19), em São Gabriel da Cachoeira, logo após o evento de lançamento da primeira Constituição Federal traduzida para o Nheengatu. Saiba quais são as línguas.

A lei estadual inclui 16 línguas indígenas na lista oficial de idiomas falados no Amazonas. Com o português, elas somam 17 línguas.

A sanção da Lei de Cooficialização e de Instituição da Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas, criada pelo Governo do Amazonas, ocorreu após o lançamento da primeira Constituição Federal traduzida para o Nheengatu. A publicação foi lançada pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Rosa Weber, na quarta-feira.

O evento de assinatura aconteceu na maloca da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus), considerada a cidade mais indígena do Brasil.

Presente na solenidade, o governador em exercício, Tadeu de Souza, afirmou que as leis sancionadas reconhecem as línguas indígenas faladas no Amazonas como patrimonial e cultural imaterial.

"O Amazonas, a partir de hoje, tem 17 línguas oficiais. O português é só uma delas. Imaginem quão cultural, social e pessoalmente mais ricos seremos, lá na frente, quando muitos de nós aqui, ou nossos filhos ou netos, formos capazes de nos comunicar em várias dessas línguas. Haverá uma transmissão de conhecimento que nem sequer conseguimos imaginar aqui e agora. Que esse tempo não demore a chegar", disse, no discurso.

Após a assinatura, Tadeu de Souza entregou, em mãos, o texto completo da nova lei ao presidente da Foirn, Marivelton Baré; à presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana; ao prefeito de São Gabriel da Cachoeira, Clóvis Moreira Saldanha; à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; à presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), Nélia Caminha; e às ministras do STF, Rosa Weber e Carmen Lúcia. O corregedor do TJAM, desembaçador Jomar Fernandes, também esteve presente na solenidade.

Também participaram do evento o desembargador do CNJ, Luís Lanfredi; a juíza Andréa Medeiros; além dos professores José Ribamar Bessa Freire, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional.

Nova lei estadual

A nova lei estadual foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM) no dia 12 de julho deste ano. Ela é resultado de uma mensagem governamental assinada pelo governador Wilson Lima.

A partir da nova legislação, as línguas oficiais do Amazonas passam a ser:

1.      Apurinã

2.      Baniwa

3.      Dessana

4.      Kanamari

5.      Marubo

6.      Matis

7.      Matses

8.      Mawe

9.      Mura

10. Nheengatu

11. Português

12. Tariana

13. Tikuna

14. Tukano

15. Waimiri

16. Waiwai

17. Yanomami

Em paralelo, a legislação do Amazonas passa a contar com a Política de Proteção das Línguas Indígenas que inclui, entre outras diretrizes, o reconhecimento e a garantia do direito fundamental de pessoas e comunidades indígenas ao pleno uso público da própria língua, seja dentro ou fora de terras indígenas.

 

G1 AM

21 de julho de 2023 às 14h22

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Constituição Indígena (Agência Brasil)

 

Constituição brasileira é traduzida pela 1ª vez para língua indígena

Grupo de 15 indígenas fez a tradução para o nheengatu

 

Trinta e cinco anos após promulgada, a Constituição brasileira foi traduzida pela primeira vez para uma língua indígena: o nheengatu. Patrocinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a nova versão da Carta Magna foi lançada nesta quarta-feira (19) no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), em uma cerimônia na maloca da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN).

Presente no evento, a presidente do STF, ministra Rosa Weber, diz que a tradução marca um momento histórico. “Traduzir a Constituição para um idioma indígena é um símbolo do nosso compromisso de garantir que todos os povos indígenas tenham acesso à justiça e conhecimento das leis que regem nosso país, fortalecendo sua participação na vida política, social, econômica e jurídica”, explicou.

A Constituiçãoem nheengatu foi feita por um grupo de 15 indígenas bilíngues da região do Alto Rio Negro e Médio Tapajós, em promoção ao marco da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) das Nações Unidas. O último levantamento de línguas indígenas do Brasil registrou que as 305 etnias brasileiras mantêm vivos 274 idiomas no país, segundo o Censo de 2010.

“(As línguas) conseguiram sobreviver mesmo diante de sucessivos ataques desde o início do processo de colonização desse território, que já era casa de inúmeros povos indígenas antes de ser chamado de Brasil. Por isso, preservar e valorizar a diversidade linguística brasileira é fundamental para a construção de uma sociedade plural e inclusiva”, destacou a ministra do STF Rosa Weber.

Rosa Weber lança a primeira Constituição Federal traduzida em língua indígena - Fellipe Sampaio/SCO/STF

Os indígenas presentes na cerimônia comemoraram a tradução da Constituição. Lucas Marubo, do povo marubo, destacou que a tradução abre um precedente para que outros povos também tenham seus direitos traduzidos. “Momento histórico para os povos indígenas”, destacou. Já a tradutora Inory Kanamari, do povo kanamari, lembrou que é a primeira indígena da sua etnia a exercer a advocacia. “Estamos num país com diversidade imensa e não escuto nossas línguas nos espaços. A gente precisa fazer parte”, concluiu Inory.

Língua-Geral Amazônica

A presidente do STF Rosa Weber disse que a escolha da língua nheengatu se deu devido a importância dela para região amazônica. “Partiu da percepção de que esta língua historicamente permitiu a comunicação entre comunidades de distintos povos espalhados em toda a região amazônica, até a fronteira com o Peru, Colômbia e Venezuela, e chegou, segundo historiadores, a ser prevalente no Brasil, até ser perseguida e proibida”, explicou.

Chamada de Língua Geral Amazônica, o nheengatu é a única língua ainda viva hoje que descende do tupi antigo, tendo traços que a relacionam com o tupi falado na costa brasileira. “Aprendi que o nheengatu é uma língua do tronco do tupi-guarani e legou para a língua brasileira milhares de vocábulos, o nosso sotaque nasal e com prevalência de vogais, que em conjunto com a herança de outros idiomas indígenas e dos idiomas africanos, caracteriza a nossa língua como única e uma das mais ricas do mundo”, concluiu Weber.

Também participaram do lançamento da Constituição em Nheengatu a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Joenia Wapichana.

 

Presidente do STF, Rosa Weber, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara - Fellipe Sampaio/SCO/STF


Com informações do Supremo Tribunal Federal (STF)

Edição: Aline Leal

Por Lucas Pordeus León

Repórter da Agência Brasil – Brasília

Publicado em 19 de julho de 2023 às 15:42h

sábado, 3 de junho de 2023

Bruno e Dom: Ashaninka (Jornal Hoje)

 

Dom Phillips visitou o povo Ashaninka um mês antes de ser assassinado

Dom Phillips visitou o povo Ashaninka um mês antes de ser assassinado
 

As mortes do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira completam um ano em junho. Cerca de um mês antes de ser assassinado no Vale do Javari, no Amazonas, Phillips esteve no Acre, na terra do povo Ashaninka, para conhecer o processo de restauração e proteção da floresta feito na aldeia.

Os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero foram conversar com os indígenas que estiveram com ele. A reportagem especial faz parte do projeto Forbidden Stories, um consórcio internacional que tem a missão de continuar o trabalho interrompido pelo assassinato de um jornalista no exercício da profissão.

 

Bruno Pereira e Dom Phillips. — Foto: Foto: Gary Calton/The Observer 


Nas margens do rio Amônia, bem pertinho da fronteira com o Peru, uma história de renascimento - da floresta e do povo que a ocupa há milhares de ano. Quando recuperaram sua terra, o pasto tinha substituído a mata. Mais de um século de exploração havia acabado com os animais e os peixes.

Ressuscitar a floresta, exigiu todas as mãos disponíveis. E foi feito tantas vezes, que ainda hoje a produção de mudas é um dia especial, a cada mês.

“É, isso ele falou para a gente, né? Assim, ‘o que vocês fizeram é um exemplo, né, para que vocês possam mostrar isso e dizer que a solução não é não é só derrubar, né? A solução não é derrubar a Amazônia. É porque a gente só acabando, só tirando, só tirando, também o caminho não é isso”, conta Wewito sobre as conversas com Dom Phillips.

Entre uma entrevista e outra, buscando respostas sobre como salvar a Amazônia, Dom Philips conversou com Yara, filha de Wewito, sobre o ofício do jornalista. Ela anotou tudo.

“No final do evento, eu perguntei se ele poderia me ajudar a fazer a matéria, já que ele trabalhava com isso há muito tempo, né? Ele falou que sim, aí foi me orientando a fazer a matéria. Ele escreveu uma parte, eu também escrevi… Então meio que ele deu início à minha primeira matéria que eu fiz na vida, né?”, diz Yara.

Dom também subiu o rio com os Ashaninka, para ver como eles vigiam a própria terra para impedir invasões e compartilhou da fartura que já aparece de novo, basta jogar a rede.

Eles ainda têm muitos desafios pela frente. Uma nova estrada, no Peru, pode tornar ainda maiores os perigos nessa área de fronteira. O tráfico de drogas e invasões por madeireiros e caçadores ilegais são perigos constantes, mas os Ashaninka avançam para um futuro que eles mesmos estão construindo.


Jornal Hoje

03 de junho de 2023 às 14:39hs

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Língua Indígena: Ameaça (BBC)

 

De pipoca a jaguar:

O brasileiro fala tupi o dia inteiro sem saber

 

Crédito: @tupiretama

 

Cidades, fauna, flora e cotidiano: o Tupi está em tudo

Se você já falou para alguém que estava na pindaíba no final do mês ou que em determinado dia acordou um pouco jururu, esteve falando tupi e talvez não saiba.

Muito do que se fala hoje é herança de uma língua chamada geral, ou brasílica, que até o final do século 18 era a mais falada no território brasileiro, bem à frente do português.

A relação dos brasileiros com essa língua geral, que tinha origem no tupi e foi mapeada gramaticalmente pelos jesuítas, foi cortada à força quando a equipe do Marquês de Pombal a chamou de demoníaca em documentos oficiais de 1758, proibindo seu uso em todo o território.

Mas pouco mais de 200 anos não foram capazes de apagar a rica cultura das linguagens originárias brasileiras, que se mantêm presentes no português moderno e são alvo de uma luta indígena para a manutenção delas entre o seu povo.

Ao cruzar a fronteira com o Brasil pela primeira vez de carro, a paraguaia Liz Benitez diz que tomou um susto quando percebeu que, em todas as placas, ela lia nomes de lugares em tupi.

Liz é professora de guarani, uma língua derivada do tupi que é falada pela maior parte da população em seu país e reconhecida desde 1992 como língua oficial do Paraguai, juntamente com o espanhol.

“Eu me surpreendi que o tupi fosse tão nativo do Brasil. Desde a primeira cidade em que entrei, Foz do Iguaçu (fruto da junção do fonema ‘Y’, que significa rio, com a palavra ‘guaçu’, que significa grande), até por exemplo Ponta Porã (fruto da junção das palavras Ponta e ‘Porã’, que significa bonita). Eu via nossas línguas originárias em tudo”, diz.

Assim como Liz, que montou uma página no Instagram chamada Dicas de Guarani, o estudante de filosofia Matheus da Silva, é um apaixonado por descobrir a origem de palavras. Ele também criou a conta de Instagram Tupinizando para compartilhar com seus compatriotas brasileiros suas descobertas enquanto estudava tupi.

O vídeo de maior sucesso, que já foi visto por mais de 250 mil pessoas, mostra o significado dos nomes de cinco estados brasileiros que derivam do tupi.

“Pernambuco é o meu preferido em termos de sonoridade e significa ´fenda do mar´, em referência aos recifes presentes naquela área”, conta.

Matheus revela ainda que Paraná (mar ou rio muito grande), Paraíba (rio ruim), Sergipe (no rio dos siris) e Tocantins (bico de tucano) são todos exemplos que vêm do tupi e que mostram uma das características mais apreciadas nessa língua por quem a estuda: o seu caráter descritivo na hora de criar novas palavras.

A palavra pipoca (junção de ‘pira’, que significa ‘pele’ com ‘poca’, que significa ‘arrebentar’), por exemplo, descreve exatamente o que acontece com o milho quando é aquecido: sua pele arrebenta.

O mesmo vale para cutucar, originária de "kutuk", que significa furar e que, segundo Liz, até hoje é usada nas manchetes de jornais do Paraguai para descrever crimes à faca.

Muito da nossa fauna e flora também tem nomes que vieram do tupi. Alguns dos casos mais curiosos vêm de palavras que tiveram seus significados em tupi adotados em outras línguas, mas não vingaram no Brasil.

É o caso de ananas, que significa fruta excelente e foi adotado no francês pra definir abacaxi ou de jaguar, que é a palavra usada em inglês para definir o que chamamos de onça.

Para além da luxuosa marca de automóveis, o que não faltam são outras marcas no mercado brasileiro que têm suas origens no tupi.

Piracanjuba (peixe da cabeça amarela), mococa (casa do mocó, um roedor da Caatinga) e catupiry (muito bom) são apenas algumas delas.

Como Matheus relata ter descoberto desde que começou a estudar tupi antigo: “o brasileiro fala tupi o dia inteiro sem saber”.

 


Crédito: @indigenouslanguages

 

A mortandade progressiva das línguas originárias

Apesar do tupi antigo ser parte importante do português moderno, a língua foi deixando de ser falada após a proibição de 1758 e acabou sendo considerada morta no início do século 20.

Além dos brasileiros urbanos em geral, que perderam de vez essa conexão com suas origens, boa parte das comunidades indígenas hoje têm apenas o português como língua nativa. E esse processo de apagamento não parou no passado.

“Dentro de um idioma, toda uma visão de mundo é construída. Ao tentar destruir (a língua geral) tentava-se apagar os resquícios do que os europeus chamavam de barbárie, mas que na verdade era uma riqueza cultural incompreendida”, relata o indígena potiguara e professor de tupi Romildo Araújo.

Segundo ele, devido à violência desse processo, muitos conhecimentos desapareceram e continuam desaparecendo à medida que “a colonização avança”.

“Devido ao avanço em terras indígenas continua havendo esse processo em que os indígenas vão perdendo não só o meio ambiente, mas as formas de reprodução da sua cultura. Se não houver políticas de Estado que impeçam esse processo, aquilo que aconteceu lá no século 18 pode acontecer com os nossos povos também no século 21”, diz.

Romildo faz parte de um grupo de indígenas que tentam revitalizar as línguas originárias em suas comunidades.

Ele dá aula de tupi para crianças, adolescentes e adultos em uma escola estadual indígena do município de Marcação, na Paraíba, e diz que existem meios para inserir línguas originárias no currículo.

Segundo Romildo, a comunidade indígena se preocupa em cuidar do seu idioma e em criar meios para que ele se mantenha vivo ou seja fortalecido, mas precisa de ajuda.

“Isso envolve a participação do Estado. Ele pode ser responsável tanto pela preservação quanto pelo desaparecimento dos nossos idiomas. É um direito do povo indígena ter acesso a sua cultura, que foi suprimida pelo processo colonial”, diz ele.

“Esse processo (de desaparecimento dos idiomas) pode ser revertido através da formação de professores e contratação de professores indígenas e da criação dessas disciplinas em escolas indígenas. ONGs e universidades podem desempenhar ações como criação de dicionários, gramáticas, pesquisas, coletas e compartilhamento de dados referentes aos idiomas”, sugere.

No Paraguai, a inclusão da alfabetização em guarani no ensino formal a partir de 1994 foi um marco importante.

“Aqui o colonialismo não deu conta do apagamento da língua, e por isso o Paraguai é um fenômeno muito interessante que é estudado por pesquisadores. O guarani é falado em todo o país por indígenas e não indígenas”, conta Liz Benitez.

A professora considera que a reforma dos anos 1990, que reconheceu a língua como oficial do país, foi importante ao declarar que o guarani é tão importante quanto o espanhol.

Outro ponto importante, em sua opinião, foi a consequente aproximação da população com suas origens: “o guarani é a língua da privacidade, da família, e conseguir entender as histórias da sua avó com certeza te aproxima dos seus ancestrais”, acrescenta.

 


Abertura da Década Internacional das Línguas Indígenas na Unesco, em Paris, em dezembro. Crédito: @indigenouslanguages

 

Década Internacional das Línguas Indígenas

O problema do desaparecimento das línguas originárias é tão grave que fez a ONU declarar, em 2022, a Década Internacional das Línguas Indígenas.

“Um ano não é suficiente para haver mudanças efetivas, para que mais línguas indígenas sejam reconhecidas, revitalizadas e mais utilizadas. Um período de dez anos parece ser mais adequado para criar uma mudança de longo prazo, para permitir que as gerações mais jovens usem suas línguas indígenas”, diz Jaco Du Toit, chefe da seção de Acesso Universal à Informação na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), órgão que coordena as ações da iniciativa.

Jaco explica que, quando se fala em preservação de línguas indígenas não existe um só caminho.

“Existe uma gama muito ampla de campos em que precisamos intervir, vai da educação ao empoderamento digital, da saúde à Justiça, da cultura à igualdade de gênero, precisamos de uma abordagem muito holística quando olhamos para a década”, detalha.

“Os governos precisam estar envolvidos no processo, a sociedade civil e o setor privado também são importantes, mas os agentes mais significativos e que precisam sempre fazer parte do processo são as pessoas indígenas.”

Adauto Candido Soares, que é coordenador do setor de Comunicação e Informação da UNESCO no Brasil, considera a Funai como o parceiro mais estratégico nesse processo.

“Nós temos uma parceria com a Funai, que administra o Museu do Índio e nesse espaço eles têm uma base de dados enorme com gramáticas, publicações, gravações e documentos com relação às línguas indígenas”, revela Adauto, que diz ver no governo atual uma chance de avançar mais na questão.

O professor Romildo lembra que, enquanto ainda não existem muitas políticas públicas voltadas para resolver a questão do desaparecimento das línguas indígenas, a Funai é realmente uma parceira-chave no resgate dessa cultura.

“Estamos esperando para os próximos quatro anos da Funai uma maior contribuição nessa parte de resgate e fortalecimento das linguagens indígenas”, diz.

Como um exemplo de como a iniciativa privada pode ajudar, Adauto cita o caso da Motorola.

Em parceria com a Unesco, a empresa de telefonia anunciou em dezembro, na abertura da Década Internacional das Línguas Indígenas, em Paris, que adicionou duas novas línguas aos seus aparelhos: o kaingang, língua de uma etnia indígena numerosa que vive no Sul do Brasil e o nheengatu — variação da língua geral nascida na Amazônia que, diferentemente do que aconteceu no resto do país, não morreu e é tão falada até hoje que foi considerada a língua oficial dos municípios de São Gabriel da Cachoeira (AM) e Monsenhor Tabosa (CE).

“Estamos até buscando uma parceria com a Anatel, para fazer com que essas línguas possam estar também nos outros fabricantes de celulares. Eles gostaram muito da iniciativa, e a gente está tentando articular com eles. A Motorola disponibilizou, inclusive, toda a base de dados aberta para que as outras empresas possam utilizar e colocar em seus celulares essas duas línguas”, revela o coordenador.

Adauto diz que esse é um reconhecimento importante para as línguas indígenas, mas que essa não é a principal conquista dessa ação.

”Nós temos um bom número de falantes de línguas indígenas no território brasileiro, essas pessoas não podem ser excluídas digitalmente”, declara, exemplificando um problema que a simples adição dessas línguas a aparelhos celulares pode ajudar a resolver.

 

BBC

Jamille Bastos

BBC News em Londres

9 de fevereiro de 2023