Constituição
brasileira é traduzida pela 1ª vez para língua indígena
Grupo de 15
indígenas fez a tradução para o nheengatu
Trinta e cinco anos após promulgada, a Constituição
brasileira foi traduzida pela primeira vez para uma língua indígena: o nheengatu.
Patrocinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), a nova versão da Carta Magna foi lançada nesta quarta-feira (19) no município
de São Gabriel da Cachoeira (AM), em uma cerimônia na maloca da Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (FOIRN).
Presente no evento, a presidente do STF, ministra Rosa
Weber, diz que a tradução marca um momento histórico. “Traduzir a Constituição para
um idioma indígena é um símbolo do nosso compromisso de garantir que todos os povos
indígenas tenham acesso à justiça e conhecimento das leis que regem nosso país,
fortalecendo sua participação na vida política, social, econômica e jurídica”, explicou.
A Constituiçãoem nheengatu foi feita por um grupo de 15 indígenas bilíngues da região
do Alto Rio Negro e Médio Tapajós, em promoção ao marco da Década Internacional
das Línguas Indígenas (2022-2032) das Nações Unidas. O último levantamento de línguas
indígenas do Brasil registrou que as 305 etnias brasileiras mantêm vivos 274 idiomas
no país, segundo o Censo de 2010.
“(As línguas) conseguiram sobreviver mesmo diante de
sucessivos ataques desde o início do processo de colonização desse território, que
já era casa de inúmeros povos indígenas antes de ser chamado de Brasil. Por isso,
preservar e valorizar a diversidade linguística brasileira é fundamental para a
construção de uma sociedade plural e inclusiva”, destacou a ministra do STF Rosa
Weber.
Os indígenas presentes na cerimônia comemoraram a tradução
da Constituição. Lucas Marubo, do povo marubo, destacou que a tradução abre um precedente
para que outros povos também tenham seus direitos traduzidos. “Momento histórico
para os povos indígenas”, destacou. Já a tradutora Inory Kanamari, do povo kanamari,
lembrou que é a primeira indígena da sua etnia a exercer a advocacia. “Estamos num
país com diversidade imensa e não escuto nossas línguas nos espaços. A gente precisa
fazer parte”, concluiu Inory.
Língua-Geral Amazônica
A presidente do STF Rosa Weber disse que a escolha da
língua nheengatu se deu devido a importância dela para região amazônica. “Partiu
da percepção de que esta língua historicamente permitiu a comunicação entre comunidades
de distintos povos espalhados em toda a região amazônica, até a fronteira com o
Peru, Colômbia e Venezuela, e chegou, segundo historiadores, a ser prevalente no
Brasil, até ser perseguida e proibida”, explicou.
Chamada de Língua Geral Amazônica, o nheengatu é a única
língua ainda viva hoje que descende do tupi antigo, tendo traços que a relacionam
com o tupi falado na costa brasileira. “Aprendi que o nheengatu é uma língua do
tronco do tupi-guarani e legou para a língua brasileira milhares de vocábulos, o
nosso sotaque nasal e com prevalência de vogais, que em conjunto com a herança de
outros idiomas indígenas e dos idiomas africanos, caracteriza a nossa língua como
única e uma das mais ricas do mundo”, concluiu Weber.
Também participaram do lançamento da Constituição em
Nheengatu a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e a presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Joenia Wapichana.
Com informações do Supremo Tribunal Federal (STF)
Edição: Aline Leal
Por Lucas Pordeus León
Repórter da Agência Brasil – Brasília
Publicado em 19 de julho de 2023 às 15:42h
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