domingo, 22 de dezembro de 2024

Isolados Massaco: O Globo

 

Isolados do Massaco

Imagens inéditas revelam etnia da Amazônia jamais vista

 

Uma série do GLOBO em parceria com o The Guardian aborda como políticas de proteção estão promovendo a resiliência cultural e ecológica em toda a floresta tropical.

 

Isolados do Massaco: imagens inéditas revelam etnia da Amazônia jamais vista— Foto: Funai.

 

Os povos isolados do Brasil estão prosperando com a abordagem de não contato – mas a vigilância permanece essencial. Especialistas revelam que o número de comunidades isoladas cresce em territórios indígenas, mas esse sucesso também aumenta o risco de contato "catastrófico".

Em Rondônia, um dos estados mais desmatados da Amazônia Legal, uma comunidade isolada está prosperando. Eles são especialistas em caça com longos arcos e em proteger suas terras de visitantes indesejados com armadilhas de estacas (estrepes) escondidas, feitas de madeira tão resistente que consegue furar o pneu de um trator. Foi uma dessas estacas que imobilizou uma picape 4x4 de uma equipe da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no início deste ano, encerrando uma missão no território indígena Massaco.

 

Os temidos estrepes, como são conhecidas as estacas superafiadas feitas de madeira maciça, podem perfurar calçados e até pneus de trator — Foto: Funai.

 

Ninguém sabe como eles se autodenominam. Massaco é o nome dado ao grupo por causa do rio que atravessa seu território, próximo à fronteira do Brasil com a Bolívia. A Massaco é uma das 29 comunidades isoladas confirmadas no Brasil. Outras 85 foram relatadas, mas ainda não foram confirmadas devido às rigorosas exigências de coleta de evidências e aos entraves burocráticos necessários.

As estacas (estrepes) vêm sendo encontradas com frequência crescente e cada vez mais perto da base de onde o veterano da Funai, Altair Algayer, supervisiona a proteção dos 421 mil hectares do território – o equivalente a quase meio milhão de "Maracanãs". Elas parecem transmitir uma mensagem clara: fiquem longe, não queremos invasores em nossas terras.

 

O coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé (FPE-Guaporé), Altair Algayer, durante entrevista na base da Terra Indígena Massaco, explicou como foram feitas as imagens inéditas — Foto: Daniel Biasetto/O GLOBO.

 

Ficou claro, a partir das imagens e de anos de expedições de monitoramento lideradas por Algayer, que o povo do rio Massaco está se tornando mais numeroso – uma tendência aparente entre muitas comunidades isoladas na Amazônia. Para os Massaco, isso representa uma mudança no cenário vivido nos anos 1980, quando sua terra estava cheia de madeireiros e seringueiros.

 

Anos de pistas e observação indireta indicavam que os Massaco caçam com arcos de três metros de comprimento e mudam suas aldeias de lugar conforme as estações dentro da floresta — Foto: Funai.

 

Naquela época, o mandato da Funai era tentar o contato pacífico com povos indígenas que estivessem no caminho de estradas, novos assentamentos e extração de recursos. Em 1987, agentes se prepararam para fazer contato, atraindo as pessoas ao longo de uma trilha de presentes tradicionais, como ferramentas, panelas de metal, utensílios e espelhos. Contudo, também em 1987, especialistas da Funai, em Brasília, concluíram que as doenças e a miséria resultantes do contato pacífico eram catastróficas para os povos isolados e instituíram a atual política de não contato da fundação.

O Massaco – o primeiro território no Brasil protegido exclusivamente para populações isoladas – tornou-se um experimento de localizar e monitorar uma comunidade isolada sem fazer contato.

 

Os agentes da Funai encontram, durante expedições, trilhas com centenas de estrepes afiados, que podem perfurar até pneus de trator — Foto: Funai.

 

Algayer começou a trabalhar no Massaco em 1992. Conhecido como Alemão (devido à sua ascendência), ele se tornou uma lenda dentro da Funai por sua documentação sistemática sobre os Massaco e por sua obstinada proteção das terras.

O território tornou-se um modelo. A Funai e agências federais zeraram o desmatamento dentro de suas fronteiras em uma região onde a perda de floresta é desenfreada.

Algayer diz que, no início dos anos 1990, estimava a população entre 100 e 120 pessoas. Agora, ele estima 50 famílias, cada uma com quatro a cinco membros, totalizando entre 200 e 250 habitantes. Arcos pequenos, brinquedos e pegadas indicam crianças – sinais de que as famílias estão crescendo.

— Em nossas expedições mais recentes e nas imagens de satélite, vimos mais novos tapiris [cabanas de palha]. Não me surpreenderia se houvesse 300 indivíduos —, diz.

Ao longo dos anos, sua equipe mapeou 174 tapiris, fotografou milhares de artefatos, criou mapas das trilhas dos Massaco e aprendeu sobre seus movimentos sazonais para que a Funai pudesse chegar a um local semanas depois que as famílias tivessem partido. Descobriram que os Massaco queimam áreas de savana amazônica natural no início da estação chuvosa e se mudam para lá quando as áreas começam a brotar novamente.

 

O povo do rio Massaco está se tornando mais numeroso – uma tendência aparente entre muitas comunidades isoladas na Amazônia — Foto: Funai.

 

— Localizando os focos de calor registrados nas imagens de satélite em julho e agosto, sabemos com antecedência onde eles irão se estabelecer para passar a próxima estação chuvosa, de dezembro a abril —, explica Algayer.

Arcos gigantes são um mistério

 

Arcos e flechas com mais de três metros de comprimento intrigam indigenistas e indígenas sobre os hábitos do povo Massaco — Foto: Funai.

 

Os arcos e flechas encontrados nos acampamentos abandonados dos Massaco podem ultrapassar três metros – entre os mais longos já encontrados na Amazônia.

— Como eles disparam as flechas, não fazemos ideia. Outros indígenas também tentam entender, riem e dizem que é impossível. Talvez deitados, dizem eles, mas até hoje, não temos resposta para esse mistério —, relata Algayer.

 

As flechas encontradas nos tapiris abandonados têm tamanhos entre 3 m e 3,2 m de comprimento, com as pontas feitas de lâmina de bambu emendadas direto na taquara com amarras de linhas de fibras de tucum — Foto: Funai.

 

A antropóloga Amanda Villa, que integra o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) e acompanhou Algayer em expedições, destaca que os Massaco se distinguem de povos vizinhos pelos arcos longos, tapiris altos, uso extensivo de estacas (estrepes), colocação de crânios de animais em estacas penduradas em troncos de árvores, cabelos compridos, bigodes e ausência de brincos ou colares.

Um indígena Tupari que conhece várias das línguas indígenas da região ouviu por acaso um casal Massaco conversando e relatou não entender uma palavra sequer.

 

Crânios de porco-queixada enfileirados em varas penduradas em troncos de árvores encontrados nas mediações dos tapiris. Não se sabe ao certo se são expostos como troféus ou se têm alguma conotação mística ou espiritual — Foto: Funai.

 

— É por isso que muitos especialistas da Funai suspeitam que eles vieram do outro lado do rio Guaporé, da Bolívia —, afirma Amanda. — O povo Sirionó, em particular, usava arcos similares, construções de tapiris e práticas de higiene parecidas. Mas essas são suposições. Não podemos afirmar nada com certeza.

 

Arcos com até 3 metros de comprimento chamam a atenção dos servidores da Funai e de outras etnias da região — Foto: Funai.

 

As novas imagens foram feitas em um local onde a Funai tem deixado ferramentas metálicas, facões e machados. Brindes, antes usados para atrair contato, agora servem para evitá-lo, dissuadindo os isolados de irem a fazendas ou madeireiras para pegar ferramentas.

Especialistas alertam que o crescimento populacional, embora positivo, pode levar ao aumento do risco de contato, exacerbado por mudanças climáticas que afetam os recursos hídricos e o tamanho necessário das terras.

Ao analisar as imagens, Algayer aponta para o que parece ser o líder do grupo.

— O mais velho, segurando o bastão, carrega os estrepes sob o braço. O bastão que ele segura serve como cajado, mas é usado principalmente para perfurar o solo e colocar as estacas. Ele tem essa postura de liderança, ajuda a posicionar os estrepes e diz onde colocá-los.

Altair Algayer revela os bastidores das imagens inéditas: Sertanista explica como foram feitas imagens de índios isolados em Rondônia.

Há três homens de 30 a 40 anos, com bigodes e cabelos mais longos, mas os outros são mais jovens.

— Eles são vigorosos, fortes. Não estão passando fome — afirma.

Antes dessas imagens, apenas um agente da Funai havia visto os Massaco. Em 2014, Paulo Pereira da Silva, de 64 anos, um dos membros da equipe de Algayer, estava fazendo café por volta das 14 horas quando ouviu batidas do lado de fora.

— Entrei no escritório e olhei pela janela, que tem uma tela de proteção, e vi duas pessoas ao pé da escada. Fiquei paralisado — lembra.

 

O experiente agente Paulo Pereira da Silva explica como foi a "visita" inesperada dos Massaco à base — Foto: Altair Algayer.

 

Nus e sem flechas, os dois homens estavam colocando os temidos estrepes na frente das escadas.

— Um homem mais velho fazia buracos com uma estaca de madeira de aroeira, e um jovem colocava as estacas — conta Pereira.

 

Indígenas que vivem em total isolamento voluntário, os Massaco foram fotografados por meio de câmera automática enquanto recolhiam ferramentas deixadas pela Funai — Foto: Funai.

 

Ele gritou para os dois. O mais velho o encarou, enquanto o mais jovem correu, deixando as estacas no chão. Outros seis indivíduos apareceram e plantaram uma trilha de estacas por pelo menos dois quilômetros.

Outros povos isolados, com florestas suficientemente grandes e efetivamente protegidas, refletem o crescimento populacional dos Massaco. Em uma expedição em julho pelo GLOBO e o The Guardian ao território Kawahiva do Rio Pardo, no estado vizinho do Mato Grosso, especialistas da Funai encontraram evidências de um povo que eles estimam ter dobrado em tamanho nos últimos 25 anos.

Um relatório de 2023 na revista científica Nature analisou imagens de satélite que mostram que os povos isolados no estado do Acre expandiram suas plantações em 17% ao ano entre 2015 e 2022. O mesmo estudo registrou o crescimento dos isolados Moxihatëtëa, um subgrupo dos Yanomami, no norte da Amazônia. Os Moxihatëtëa inclinam enormes painéis de palha em um círculo, cada painel abrigando uma família. Nos anos 2010, sua nova aldeia tinha ampliado o anel, de 16 para 17 painéis. Em 2020, mudaram-se novamente, erguendo dois anéis com um total de 23 painéis.

 

Cabanas temporárias feitas com a palha da palmeira babaçu (tapiris) podem chegar a uma altura de cinco metros e são usadas para caça e coleta na floresta — Foto: Funai.

 

Crescimentos similares foram observados no Vale do Javari, após sua demarcação como terra indígena em 2001. Os 8,5 milhões de hectares de floresta que fazem fronteira com o Peru abrigam 16 povos isolados – dez confirmados – o maior número em qualquer território no Brasil. Beto Marubo, representante da Unijava e principal defensor dos povos isolados no Brasil, afirma que, antes da demarcação do território Javari, as pessoas “estavam morrendo”.

— Suas malocas eram minúsculas, havia madeireiros por toda parte, traficantes de drogas, todo tipo de gente perigosa. O Javari era uma terra sem lei — lembra.

— Após a demarcação e aplicação mais rigorosa das leis, as comunidades indígenas começaram a plantar hortas, diz ele. Elas não pegavam mais malária. Hoje, você vê uma nova tendência no Javari. Há lugares onde não imaginávamos que povos isolados poderiam ir, e agora eles estão aparecendo — finaliza.

Esses sucessos trazem um novo dilema: suas áreas podem em breve não ser grandes o suficiente.

— O crescimento dos povos isolados é, sem dúvida, uma notícia maravilhosa, mas, por outro lado, nos alerta para o risco iminente de contato, não apenas porque isso pode levar a uma necessidade de mais terras, mas também por causa das mudanças climáticas — pondera Algayer. — Se os povos isolados ficarem sem água em seus riachos, eles se aproximarão de outras populações — afirma.

Janete Carvalho, diretora de proteção territorial da Funai, ecoa essas preocupações.

— Vamos enfrentar isso em algum momento. Ninguém sabe onde isso vai levar, porque, em princípio, há uma chance real de que o contato aconteça —, diz ela. — Claro, nós não queremos isso.

Esta reportagem foi produzida em conjunto com o jornal inglês The Guardian. Daniel Biasetto é editor de conteúdo do GLOBO. John W. Reid é coautor de Ever Green: Saving Big Forests to Save the Planet. Eles foram apoiados nesta série por uma bolsa da Fundação Ford.

 

Por Daniel Biasetto e John Reid — Terra Indígena Massaco (RO), Enviados especiais

22/12/2024 02h00

 

BIASSETTO, Daniel; REID, John. Isolados do Massaco: imagens inéditas revelam etnia da Amazônia jamais vista. O Globo, 22 dez. 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/especial/isolados-do-massaco-imagens-ineditas-revelam-etnia-da-amazonia-jamais-vista.ghtml. Acesso em: 22 dez. 2024.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Direito Indígena (Folha BV)

Indígenas bloqueiam rodovia federal em protesto contra o marco temporal


CIR diz que manifestação na BR-174 é pacífica e nega tumulto ou outras ocorrências. PRF informou que monitora protesto.

Lucas Luckezie: 29/10/2024 10:00


Bloqueio da rodovia federal BR-174 por indígenas contrários ao marco temporal (Foto: Ascom/CIR)


Indígenas das terras indígenas Raposa Serra do Sol e São Marcos bloquearam, na manhã desta terça-feira (29), o quilômetro 666 da rodovia federal BR-174, em Pacaraima, no Norte de Roraima. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que monitora o protesto.

O ato iniciou por volta das 8h, próximo à comunidade indígena Sabiá. O Conselho Indígena de Roraima (CIR) disse que a manifestação é pacífica e negou tumulto ou outras ocorrências.



Bloqueio da rodovia federal BR-174 por indígenas contrários ao marco temporal (Foto: Ascom/CIR)


O grupo realiza atos culturais, como danças e cantos, defumação do maruwai (ritual) e gritos de guerra, como “Fora Marco Temporal”, “lutar, vencer e nunca desistir”, “povo unido, jamais será vencido” e “suspenda a lei do marco temporal, permanente”.


Indígenas contrários ao marco temporal bloqueiam BR-174 (Foto: Ascom/CIR)


Os alvos diretos do protesto são a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 48 do marco temporal, do senador Dr. Hiran (Progressistas-RR), a lei federal de 2023 que estabelece a tese, e as ações diretas de inconstitucionalidade inerentes ao tema, em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). “Gilmar Mendes, respeite os filhos de Makunaima e netos do Insikiran” e “senador Hiran, respeita os nossos direitos” são algumas das falas proferidas pelos manifestantes.


Manifestantes indígenas protestam contra o marco temporal na BR-174 (Foto: CIR)

O CIR informou que outras mobilizações indígenas são realizadas simultaneamente em rodovias estaduais que cortam cidades como Amajarí, Normandia e Cantá, no Norte do Estado. O conselho informou que os protestos não têm previsão para encerrar e que a ideia é pressionar o STF e o Senado contra o marco temporal. A manifestação segue a Mobilização Indígena Nacional, prevista para esta quarta-feira (30), em Brasília.


O que é o marco temporal

O marco temporal significa que os povos indígenas só podem reivindicar terras que ocupavam ou disputavam na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. A tese surgiu em 2009, em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. O critério temporal foi utilizado nesse caso. Grupos indígenas contrários acreditam que a tese desconsidera, por exemplo, povos nômades e comunidades que foram expulsas de suas terras antes da promulgação da nova Constituição.

Em setembro de 2023, o Senado aprovou um projeto de lei que regula a demarcação de terras indígenas de acordo com o marco temporal. No entanto, no mesmo mês, o STF foi contra a tese. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou o trecho da lei que instituía a tese, mas o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional, e assim, o marco temporal virou lei em outubro de 2023.

Depois, a validade da lei passou a ser questionada no STF em ações de inconstitucionalidade. Em abril deste ano, o ministro Gilmar Mendes negou pedido para suspendê-la e submeteu o tema a audiências de conciliação, que devem ser realizadas até dezembro. Neste contexto, o Senado voltou a discutir o assunto para tentar incluir o marco temporal na Constituição, por meio da PEC 48.


FOLHA BV

Lucas Luckezie, 29 out. 2024.


As Terras Indígenas Raposa Serra do Sol e São Marcos tornaram-se palco de uma mobilização que reivindica os mais fundamentais direitos de justiça e dignidade, confrontando a tese do “marco temporal”. Tal critério jurídico restringe a posse indígena às terras que estivessem ocupadas ou em disputa em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, ignorando o longo histórico de dispersão e despojo violento sofrido por essas comunidades. Aos olhos dos povos originários, essa restrição perpetua injustiças e a negação de direitos ancestrais.
Em um ato de protesto que bloqueou a BR-174 em Roraima, líderes indígenas expressaram, em rituais e cantos, a profundidade de sua relação espiritual e cultural com a terra. Este ato coletivo é um clamor por justiça que transcende o aspecto jurídico, evocando o reconhecimento de sua dignidade e autonomia, e lembrando ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional seu dever de assegurar os direitos originários.
Essa mobilização representa um apelo ao país, reafirmando o dever histórico e moral de proteger a identidade indígena e a sacralidade de suas terras. É uma convocação ao Brasil para que, ao honrar a diversidade e a integridade dos povos indígenas, promova uma sociedade mais justa e respeitosa de sua própria essência plural.

Referência:

FOLHA BV. Indígenas bloqueiam rodovia federal em protesto contra o marco temporal. Cotidiano, Lucas Luckezie, 29 out. 2024. Disponível em: https://www.folhabv.com.br/cotidiano/indigenas-bloqueiam-rodovia-federal-em-protesto-contra-o-marco-temporal/. Acesso em: 30 out. 2024.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Amazônia Ancestral (G1-Fantástico)

 

Amazônia Ancestral

 

A fascinante matéria exibida no "Fantástico" nos transporta para o coração da Amazônia, onde segredos ancestrais são desvendados sem comprometer a beleza e a integridade da floresta. Utilizando tecnologia avançada, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou geoglifos e estruturas incríveis, testemunhos silenciosos de civilizações antigas.

A magia dessa descoberta está na habilidade de desenterrar o passado sem destruir o presente. Os geoglifos, marcados no solo, contam histórias de estradas, aterros e valas defensivas, demonstrando a presença de povos antigos e sua incrível maestria no manejo ambiental.

E a conexão global não poderia ser mais empolgante! As cicatrizes na floresta se entrelaçam com descobertas arqueológicas pelo mundo, transformando a Amazônia em um palco global de monumentalidade, como bem enfatiza a antropóloga Joana Cabral. Essa interseção entre ciência, cultura e preservação ambiental adiciona uma camada de significado, especialmente para aqueles engajados em projetos sociais e sustentáveis.

Imaginem como essas descobertas podem fortalecer missões voltadas para comunidades vulneráveis, enriquecendo não apenas o entendimento local, mas também a conexão global com o passado e o futuro. A Amazônia, agora mais do que nunca, se revela como um tesouro de histórias e possibilidades, onde o presente dialoga intensamente com o ontem.

 

Na íntegra:

Descobertas ocultas na Amazônia: geoglifos revelam civilizações antigas em meio à floresta

Sem precisar desmatar, pesquisadores do Inpe usam tecnologia que alia sensores de laser e satélites para mapear a superfície da floresta de maneira tridimensional. Para cientistas, marcas geométricas provam existência de civilizações organizadas na região amazônica séculos antes da chegada dos europeus.

Com uso de laser, pesquisa encontra construções humanas pré-colombianas na Amazônia.

A Amazônia reúne cerca de trezentas espécies de mamíferos, 1.300 de aves e 40 mil de plantas. Esses são alguns dos tesouros visíveis desse bioma. Mas entre raízes se escondem outras riquezas da floresta.

Por baixo de toda a biomassa da Amazônia – que soma 75 bilhões de toneladas – cientistas encontram geoglifos - grandes figuras geométricas marcadas no chão que descortinam sinais do passado há muito escondidos.

“Essas estruturas são várias coisas diferentes, elas são pedaços de estradas, são aterros, são valas que provavelmente tinham um papel defensivo pra proteger aquelas antigas aldeias ou o que a gente chama de assentamentos também, que eram aquelas grandes aldeias do passado”, explica Eduardo Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.

Para a arqueologia, essas marcas geométricas - que já eram visíveis em áreas desmatadas - provam a existência de civilizações organizadas vivendo na região amazônica séculos antes da chegada dos europeus. 


Geoglifos são grandes figuras geométricas marcadas no chão que descortinam sinais do passado há muito escondidos — Foto: Reprodução/Fantástico 


Sem precisar desmatar, pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) conseguiram identificar estruturas semelhantes escondidas na mata fechada.

Mesmo mapeando menos de 0,1% da área da Amazônia, a pesquisa - que virou artigo na revista Science - encontrou 24 geoglifos até então desconhecidos nos estados de Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas e Pará.

 

Mas a estimativa é de que o número seja muito maior.

Com dados advindos de uma tecnologia chamada lidar, sigla em inglês que significa "detecção e alcance de luz" - um pequeno avião carrega um sensor que emite feixes de laser capazes de mapear a superfície do terreno de maneira tridimensional com a ajuda de satélites. 


As "cicatrizes" na floresta sugerem que os povos originários tinham conhecimento para fazer manejo de rios e da vegetação — Foto: Reprodução/Fantástico


Cicatrizes que revelam histórias

Debaixo da floresta, pesquisadores identificaram estruturas de áreas delimitadas, mais ou menos do tamanho de um quarteirão de uma cidade de hoje em dia, e estradas ligando uma estrutura a outra.

O que essas "cicatrizes" na floresta sugerem é que os povos originários tinham conhecimento para fazer manejo de rios e da vegetação. Só na área estudada, 53 espécies de árvores foram descritas como "domesticadas".

Semana passada, outro artigo publicado na revista Science revelou ruínas de cidades de 2.500 anos na selva da área equatoriana da Amazônia. No México, foi encontrada ano passado uma cidade maia com pirâmides e palácios - totalmente enterrada.

Essa revolução tem aproximado a arqueologia de outra área de estudos: a antropologia. Descobertas físicas possibilitam novas leituras sobre a cultura dos povos originários do território brasileiro.

“Quando arqueólogos olham para as pirâmides maias, para as ruínas incas, mesmo para o Egito, eles vão falar na ideia de monumentalidade. A gente pode pensar que a Amazônia é a grande monumentalidade que a gente legou dos povos que habitaram esse tempo. A monumentalidade está na própria floresta, na própria paisagem”, exalta a antropóloga da Unicamp Joana Cabral.


Por Fantástico

21 de janeiro de 2024. 21h34

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