Exploração Sustentável da Amazônia
Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno 30/04/2019 REUTERS/Adriano Machado
As riquezas
da Amazônia brasileira precisam ser exploradas para impulsionar o
desenvolvimento e a viabilidade econômica da região, mas seguindo todos os
princípios da sustentabilidade, disse à Reuters o ministro do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
"Essa
viabilidade tem que ser buscada explorando com sustentabilidade, com sentimento
muito claro de que nós não podemos causar desastres ambientais na Amazônia. Tem
de ser preservada", disse o ministro em entrevista na terça-feira.
"Agora,
o que pode trazer benefício para o país tem que ser explorado. De forma
ordeira, seguindo todos os princípios de preservação do meio ambiente, mas se
tem ouro vamos explorar ouro. Não vamos deixar que os contrabandistas explorem
e você não ganhe nada", afirmou.
A política
ambiental do governo Bolsonaro tem sido um dos principais pontos de crítica de
organismos e governos estrangeiros, a ponto de cientistas europeus terem
sugerido a seus governos a imposição de barreiras a produtos brasileiros com
suspeita de serem produzidos com riscos ao meio ambiente.
As ideias
difundidas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que é possível
facilitar a liberação de licenças ambientais, construir novas hidrelétricas e
estradas na Amazônia e rever áreas de parques e reservas preocupam os ambientalistas,
mas ecoam visões colocadas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.
Mais
cuidadoso, o ministro do GSI defende o cumprimento do regramento ambiental e um
desenvolvimento feito de maneira sustentável, mas se incomoda também com a
intervenção de órgãos internacionais.
Ex-comandante
militar da Amazônia, o general da reserva é um defensor nacionalista da região
e se irrita com a ideia, vendida especialmente por órgãos internacionais de
meio ambiente, de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade.
"A
Amazônia brasileira não é patrimônio da humanidade como as pessoas dizem. A
Amazônia brasileira é um patrimônio do Brasil. E nós sabemos o que temos que
fazer com a Amazônia. É a mesma coisa que as Montanhas Rochosas, que são um
patrimônio dos EUA", disse Heleno.
"Nós
temos obrigação de cuidar, de fazer um desenvolvimento sustentável da Amazônia,
mas ela é um patrimônio do Brasil. Essa é uma posição que não abro mão."
A posição de
Heleno chegou a gerar uma disputa com o Vaticano quando um sínodo (assembleia
de bispos da Igreja Católica) foi marcado para discutir a situação da Amazônia.
Chegou-se a noticiar que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estava
monitorando a organização, o que o governo negou.
À época,
Heleno admitiu preocupação com os temas que iriam ser tratados e com a visão
dos bispos. "O sínodo quer falar de terra indígena, quer falar de
exploração, de plantação, quer falar de distribuição de terra. São assuntos do
Brasil. O Brasil não dá palpite no deserto do Saara, na floresta das Ardenas,
no Alasca”, disse à época.
O encontro
acontecerá em outubro e está mantido, mas o governo se absteve de novas
críticas.
Indígenas
O ministro
também dirige críticas fortes à Fundação Nacional do Índio (Funai) e à política
indigenista brasileira, que classifica de "desastrosa".
"A
Funai até hoje não cumpriu seu papel. Temos que mirar com muito carinho a
população indígena. Eles querem ser cidadãos, não querem viver excluídos da
sociedade", defendeu.
Heleno conta
que, durante seu tempo na Amazônia, visitou mais de 300 comunidades indígenas e
diz que o pedido que recebia em todas elas era por acesso à energia elétrica.
"Isso
aí de acordo com os mais preciosistas contraria a preservação da cultura
indígena. Bobagem. Hoje é impossível se manter isolado, é muito raro as etnias
que se mantêm isoladas, isso é uma lenda, são pouquíssimos. Todos os que têm
contatos com a civilização querem todas aquelas vantagens e não significa que
vai acabar com sua cultura", afirmou.
"Eles
podem perfeitamente preservar a cultura e estar integrados à sociedade e serem
cidadãos, terem aceso ao ensino superior, eletricidade, internet. Isso tem que
ser oferecido, e tenho certeza que as comunidades vão aceitar. Eles querem
integrar a sociedade e querem preservar sua cultura, o que é uma coisa
absolutamente razoável e factível."
O próprio
presidente Jair Bolsonaro já defendeu mudanças na política de demarcação e de
exploração das terras indígenas. Ele quer a liberação da exploração econômica,
de plantações e também de mineração, com autorização das comunidades, que
poderiam receber royalties.
A medida tem
a simpatia de alguns líderes indígenas, que chegaram a ser levados ao Planalto
e gravaram um vídeo com o presidente, mas é criticada por indigenistas e por
outras lideranças indígenas. Até agora, no entanto, o governo não chegou a
mexer na legislação que trata da exploração das terras.
Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle
15 de abril de 2019 às 14:12
Entrevista originalmente publicada pela Reuters sob o título "ENTREVISTA-Amazônia deve ser explorada com sustentabilidade e ter viabilidade econômica, diz Heleno"
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