A Amazônia tem muitas alternativas
Fale-se hoje
de Amazônia, em Brasília ou nas regiões mais desenvolvidas do país, e se
ouvirão críticas ao modelo que vem até hoje garantindo emprego e renda, a Zona
Franca de Manaus. O que mais se ouve é que se trata de algo inteiramente
artificial, dependente de subsídios embutidos em renúncia fiscal. Falso.
A Zona
Franca de Manaus representa aproximadamente 8% do total da renúncia fiscal do
país, embora seja o único segmento econômico incentivado que busca a diminuição
das desigualdades regionais sociais no país. Sim, é o único desses segmentos
que visa diminuir a miséria e a pobreza de uma região historicamente abandonada
pelo poder público. Veja-se a série de renúncias que beneficiam outros setores,
como a indústria automotiva, em grande parte localizada no centro sul do país.
São renúncias existentes desde a década de 60 – e que não foram capazes até
hoje de produzir um carro brasileiro, quanto mais uma marca brasileira.
Para não ter de listar todos, vamos lembrar as
renúncias via empréstimos do BNDES com juros subsidiados, a grandes empresas,
que não precisam de subsídios, mas que, sob a proteção dessas autoridades e
desses economistas, navegam sem sofrer ataques.
Por que será
que esses economistas não disparam seus maldosos ataques a 92% dos incentivos
fiscais espalhados pelo país?
Veja-se aí mais uma vez a extensão dos
injustos ataques à Zona Franca: todos os comentários mencionam que decisão
recente do Supremo Tribunal Federal sobre créditos do IPI implicará aumento de
R$ 16 bilhões na renúncia fiscal da União. Trata-se de cálculo feito a partir
de uma base mentirosa, que inclui uma série de produtos sem relação com a
sentença do STF. Apesar disso, é o que circula como o único número citado na
matéria sobre o corte dramático de incentivos. O verdadeiro efeito da decisão
não chegará a R$ 1 bilhão.
Tratam a
Zona Franca de Manaus como se fosse o único programa econômico a utilizar
incentivos fiscais. Não apenas isso é falso como o volume de subsídios
eventualmente dirigido à Amazônia representa apenas uma pequena parcela dos
incentivos de natureza fiscal hoje existentes no país.
Todos os 92% de incentivos fiscais restantes,
como vimos, seguem para regiões ricas do país. E existe uma distorção
adicional. A renda da Zona Franca provém exclusivamente da produção. São bens
físicos, lá confeccionados, que representam seu faturamento. Compare-se isso
com os subsídios dados pelo BNDES a gigantes econômicos para, digamos, comprar
frigoríficos nos Estados Unidos.
Não quero
aqui dizer que os parâmetros seguidos pela Zona Franca são perfeitos. Precisam
de revisão. Deve ser feita. Mas não se conhece qualquer modelo alternativo que
renda R$ 98 bilhões por ano nem mantenham 84 mil empregos, o que é
indispensável para a região. O Estado do Amazonas preserva algo em torno de 96%
de suas florestas. O desmatamento ocorre em suas bordas, na divisa com outros
estados. Advém da expansão da fronteira agrícola. Um estudo aprofundado e minucioso
da Fundação Getulio Vargas vincula o modelo da Zona Franca a essa conservação
ambiental.
Temos
alternativas, sim. Todas elas envolvem nossos recursos naturais. Hoje atendemos
a uma série de condições, na maioria com forte respaldo de fora, que tolhem
esse aproveitamento de recursos, em especial minerais. Vizinhos queridos, como
os irmãos paraenses, não adotaram os mesmos condicionamentos. No esforço pelo
desenvolvimento e pela melhoria de vida de suas populações apostaram na
pecuária, na mineração, na exploração de madeira, sacrificando grande parte de
suas florestas.
Caso retirem
as amarras, ou caso nós mesmos preferirmos esse caminho, temos condições de
promover verdadeira explosão econômica. Fiquem as amarras ambientais e
permanecerá nossa dependência da Zona Franca de Manaus, com seus méritos e com
suas deficiências.
Mas contamos
também com amigos e aliados de grande relevância. Contamos com quem compreende
a importância da Amazônia e a importância de se elevar o padrão de vida de sua
população, combinada com a conservação do meio ambiente. É a voz deles que
precisamos ouvir agora.
Plínio Valério - Senador (PSDB-AM)
15 de maio de 2019 às 00:00
Texto originalmente publicado por O Globo Opinião sob o título "Artigo: A Amazônia tem muitas alternativas"
Texto originalmente publicado por O Globo Opinião sob o título "Artigo: A Amazônia tem muitas alternativas"
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