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quarta-feira, 1 de abril de 2020

Cartilhas Covid-19 (ISA)


Amazônia
Cartilhas em idiomas indígenas para combate ao Covid-19

Cartilha para combate ao Covid-19 nos idiomas Baniwa, Tukano, Nheengatu, Dâw, Hupda e Português.

Proteger as comunidades indígenas do Alto Rio Negro da pandemia do coronavírus mobilizou esforços urgentes da equipe do Instituto Socioambiental (ISA) baseada em São Gabriel da Cachoeira (AM) para a elaboração de cartilhas informativas nas línguas Baniwa, Tukano, Nheengatu, Dâw, Hupda a serem levadas para as Terras Indígenas pelos profissionais de saúde do DSEI-ARN (Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro).
O material tem versão em português e também é usado em contexto urbano pelos profissionais da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), assim como por outros multiplicadores da área de educação, meio ambiente e saúde, como os agentes indígenas de manejo ambiental (Aima’s), lideranças e comunicadores indígenas.
“As cartilhas chegam em um momento excelente. Justo quando nossas 25 equipes multidisciplinares de saúde vão entrar em campo para trabalhar a prevenção ao Covid-19. Educação e saúde caminham juntas e a conscientização sobre essa nova doença, feita de forma adaptada ao contexto cultural, é fundamental para o trabalho dar certo”, afirmou Sediel Ambrósio, enfermeiro e responsável pelo núcleo II de Planejamento, Gestão do Trabalho e Educação Permanente do DSEI-ARN. Sediel é responsável pela entrega dos materiais aos 25 pólos base de saúde que existem na área do DSEI-ARN.
As ações de comunicação, educação e informação estão previstas no Plano de Contingência para Infecção Humana pelo novo Coronavírus em Povos Indígenas do DSEI-ARN, que abrange os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, com total de aproximadamente 30 mil indígenas atendidos.

Sediel Ambrósio, responsável pelo planejamento, gestão e educação permanente do DSEI-ARN, na comunidade Hupd'ah de Santa Cruz do Tury, TI Alto Rio Negro.

Neste plano, os especialistas alertam para a vulnerabilidade dos índios da região em relação à Covid-19, uma vez que 10% dos aldeados são maiores de 60 anos, considerado grupo de risco da doença. Além disso, também alerta para o alto índice de morbidades ligadas à Influenza (gripe) e pneumonia, além de doenças relacionadas ao aparelho respiratório e circulatório. Em 2018, 7,4% dos óbitos registrados no DSEI-ARN foram relacionados a doenças respiratórias, aponta o Plano de Contingência (anexo abaixo).
O material informativo é disponibilizado em um livreto de papel reciclado e também formato digital. Além disso, a partir deste conteúdo são distribuídos ainda podcasts educativos pelos comunicadores da Rede Wayuri para serem compartilhados via celular nas línguas indígenas. As equipes do DSEI-ARN e Semsa também já vêm usando a rede de radiofonia da Foirn para informar às comunidades indígenas sobre o agravamento da pandemia no Brasil e na região amazônica. 

Mobilização
Poucos dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar situação de pandemia, foi criado por decreto municipal em São Gabriel da Cachoeira – município mais indígena do Brasil – o Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao novo Coronavírus. Interinstitucional, o comitê integra esforços para prevenir a chegada do Covid-19 no Alto Rio Negro, assim como buscar melhorias urgentes para o sistema de saúde da região em caso da proliferação da doença. O ISA, junto com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), participa deste comitê e assessora os trabalhos de comunicação, educação, assessoria jurídica e defesa de direitos.

Mapa de localização territorial dos polos base do DSEI Alto Rio Negro.

O secretário municipal de saúde de São Gabriel da Cachoeira, Fábio Lobato Sampaio, esteve em Manaus para articular recursos e insumos para serem levados ao município com urgência. Sampaio chegou de volta a São Gabriel com materiais adquiridos junto à Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam), entre os quais 300 testes rápidos de Covid-19 e kits de EPIs (equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras). “Continuaremos nossos esforços integrados dentro do comitê para enfrentar essa pandemia. É muito importante para o município ter a união das instituições nesse momento tão difícil”, disse.
Os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel também receberão recursos emergenciais do Fundo de Fomento, Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento do Amazonas), segundo anunciado pelo governador do Amazonas, Wilson Lima.
Ao todo serão R$ 70 milhões deste fundo destinados ao interior do estado. Barcelos e Santa Isabel receberão R$ 360 mil (cada um) e São Gabriel ficará com R$ 515 mil, que serão aplicados de acordo com o plano de contingência dos municípios, sendo 70% para custeio das operações e 30% em investimentos, segundo Sampaio.
Uma das maiores preocupações no Rio Negro é o fato de os municípios não terem Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) ou respiradores mecânicos. Em casos graves, os pacientes precisarão ser removidos para a capital, Manaus, distante cerca de mil quilômetros. Dessa forma, os esforços neste momento da pandemia no Brasil estão voltados ao isolamento dos municípios e a fortes campanhas de educação e informação para que a população evite a circulação e permaneça em isolamento social.
No caso dos moradores das Terras Indígenas, a indicação é que permaneçam em suas comunidades até o fim da crise. “Precisamos que os nossos parentes fiquem em suas casas nas comunidades e só venham para a cidade em casos de necessidade urgente. O ideal agora é se proteger ficando em suas casas”, recomendou o presidente da Foirn, Marivelton Barroso, do povo Baré.

01 de abril de 2020.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Guerra contra os índios (O Globo)

O governo declarou guerra aos índios
Eduardo Viveiros de Castro

O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro avalia que a escalada do desmatamento e a pressão sobre povos indígenas piorou após a eleição de Jair Bolsonaro.
Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Numa palestra recente, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro disse que governar é criar desertos. Ele usou a metáfora para descrever a relação dos donos do poder com o meio ambiente. “Quem já andou pela Amazônia sabe que a grande realização de todo prefeito é derrubar as árvores e cimentar a praça”, comenta.
Crítico de obras faraônicas da ditadura militar e dos governos petistas, o professor da UFRJ considera que a situação ficou ainda pior desde a posse de Jair Bolsonaro. Ele atribui a escalada do desmatamento a uma aliança da gestão atual com os setores mais atrasados da economia, que derrubam a floresta para plantar soja e extrair minério. O avanço das motosserras tem aumentado a pressão sobre os povos indígenas, que o antropólogo estuda desde a década de 1970. “O que eles querem é acabar com os índios no Brasil”, afirma.

Há muito tempo não se falava tanto em ameaças aos índios no Brasil. Por quê?
Há uma ofensiva econômica e religiosa contra os povos indígenas. O grande capital quer as terras, e os evangélicos querem as almas.
Existe uma frase famosa atribuída a um índio americano: “Nós ficamos com a Bíblia e vocês ficaram com a terra”. Os grandes interesses econômicos, que sempre tiveram a posse do Estado, agora se uniram ao fundamentalismo religioso. Isso é uma coisa relativamente nova no Brasil. E muito preocupante.

Onde o governo entra nisso?
Este governo tem três braços: o econômico, o religioso e o militar. Os militares veem os índios como ameaça à soberania. Os evangélicos tratam os índios como pagãos que devem ser convertidos. E o grande capital quer privatizar ao máximo o território brasileiro, o que significa reduzir as reservas ecológicas e as terras indígenas.
O projeto é abrir novas áreas para o extrativismo mineral e derrubar mais floresta para abrir pasto e plantar soja.
O Brasil está retomando sua vocação de colônia de exportação de produtos primários. Tivemos o ciclo do açúcar, o ciclo do ouro, o ciclo do café e o ciclo da borracha. Agora temos o ciclo da soja e da carne.

Bolsonaro nomeou um missionário para o setor da Funai que cuida dos índios isolados. O que isso significa?
Os cristãos fundamentalistas acreditam que é preciso converter até o último pagão, e os índios isolados são os clientes ideais para esse projeto.
O objetivo dos missionários é desconectar os índios das suas condições culturais e materiais de existência. Isso significa separar os povos deles mesmos. Destruir o que há de indígena nos povos indígenas.

'Há uma ofensiva econômica e religiosa contra os povos indígenas', afirma Viveiros de Castro.
Foto: Ana Branco / Agência O Globo

É um projeto especialmente sinistro porque está ligado a um programa econômico de desterritorializar os índios para permitir a entrada da mineração. Os missionários são fanáticos, mas os estrategistas do Estado não são.
 Desde 1987, a política oficial da Funai era evitar o contato e garantir a proteção dos índios isolados. Essa política sempre foi combatida pelos missionários. Agora também passou a ser combatida pelo governo.

Como vê as declarações do presidente sobre os índios?
São declarações racistas e repugnantes. Essa história de que o índio “está evoluindo” e “cada vez mais é um ser humano igual a nós” ... Bolsonaro faz declarações racistas e xenófobas, na medida em que trata os índios como se fossem estrangeiros. Essas falas estimulam a a violência, como se fossem uma licença para matar.
O Brasil tem um governo que declarou guerra aos povos indígenas. O governo Bolsonaro vê os índios como um obstáculo, como algo que precisa acabar. Os governos anteriores nunca atacaram os índios dessa forma.

Qual é o projeto de Bolsonaro para os povos indígenas?
Ele não tem projeto nenhum. Quem tem um projeto é o grande capital, que usa o Bolsonaro como uma espécie de leão de chácara.
O horizonte intelectual do Bolsonaro vai até a bateia do garimpeiro. Ele tem um imaginário do Velho Oeste, uma obsessão primitiva com a ideia de ficar rico com o ouro.
Este é o governo da terra arrasada. Querem desescrever a Constituição de 1988, que não é nenhuma maravilha, mas representou um grande avanço na conquista de direitos e na proteção dos índios.

Por que os militares veem a demarcação de terras indígenas como ameaça à soberania?
Os militares vivem na paranoia de que o Brasil está sob ameaça perpétua de invasão. No plano econômico, a internacionalização da Amazônia já aconteceu há muito tempo, mas eles não dão a mínima.
Como vê os ataques do Planalto a ONGs ambientalistas?
Existem ONGs de todos os tipos, mas o governo só ataca as que difundem práticas de justiça ambiental e social. E esses ataques agradam aos militares, que sempre se viram como donos do território nacional.

O senhor também fez críticas duras aos governos Lula e Dilma. Qual a diferença entre as gestões do PT e a atual?
Fui muito crítico ao modo como os governos Lula e Dilma concebiam o desenvolvimento econômico. A construção da usina de Belo Monte foi uma monstruosidade, uma iniciativa criminosa. Sem falar nas interações bizarras entre os governos do PT e as empreiteiras.
Apesar de tudo, o que estamos vivendo hoje é muito pior. Antes você já tinha garimpeiros invadindo terras indígenas, mas a Polícia Federal ia lá e tentava retirá-los. Agora o governo quer destruir a Funai e incentivar o garimpo.
O que nós temos hoje no Brasil é um projeto de destruição. Bolsonaro já disse que não chegou para construir, e sim para derrubar.
Outra coisa sinistra é a relação do poder com os porões da ditadura, com um submundo que emergiu. Vivemos num país em que a distância entre a milícia e o governo se tornou infinitesimal, para usar um eufemismo.

Como define o espírito deste governo?
O sentimento predominante no governo e em sua base de apoio é o ressentimento. Ele se manifesta nos ricos que não toleram ver a empregada indo à Disney e nos pobres que pararam de ascender socialmente por causa da crise.
O Brasil é um país que não aboliu a escravidão, um país racista. A frase do Paulo Guedes sobre as empregadas indo à Disney pertence ao universo moral da escravidão.
As classes dominantes do Brasil sempre foram eficazes em manter o povo num estado de abjeção intelectual. Darcy Ribeiro já dizia que a crise da educação não é uma crise, é um projeto.
A incapacidade de aceitar as diferenças também produz ressentimento. O sujeito olha em volta e diz: “Este cara é gay, não quer viver como eu”. Então ele pensa que tem que curar o gay, tem que acabar com o índio.
Isso gera um processo de etnocídio, no sentido mais amplo da palavra. Estamos assistindo a um etnocídio geral no Brasil, uma tentativa de exterminar tudo o que não é parecido com quem está no poder.

Por que o ressentimento virou uma arma tão poderosa para políticos populistas?
Isso é um fenômeno mundial. Tem a ver com a ideia de que o mundo em que nós vivemos está acabando. Com a emergência climática, o futuro próximo se tornou imprevisível. E a sensação de que as coisas estão saindo do eixo produz uma insegurança existencial enorme.
Nós imaginávamos que a História iria conduzir o Ocidente a um mundo cada vez mais secular. E o que se vê é um retorno da religião e do fundamentalismo, que estão ligados a esse sentimento de pânico. 

Bernardo Mello Franco e Fernanda Godoy
16 de fevereiro de 2020 às 04:30

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Integração e Assimilação (Folha de São Paulo)


Integração Indígena X Assimilação Cultural
Indígenas não querem ser assimilados


Os povos indígenas ocupam o território brasileiro há mais de 10 mil anos. Somam, atualmente, cerca de 900 mil indivíduos, distribuídos em 305 etnias com 274 línguas distintas, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010.
Essa população ocupa 722 áreas de reserva protegidas pela legislação, que correspondem a 13,8% do território e formam uma espécie de enclave de tensão entre duas culturas, dois sistemas de produção, dois “Brasis”.













 

Folha de São Paulo. Fotos - Exposição Sebastião Salgado

“Integração no Brasil é sempre pensada como uma assimilação cultural, o que é absolutamente errado. Os indígenas não querem ser assimilados, poderiam, se quisessem. Mas não é essa a ideia”, disse Manuela Carneiro da Cunha, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), durante o oitavo episódio do programa Ciência Aberta de 2019.
Para a antropóloga, a assimilação cultural, “disfarçada no eufemismo de integrar o Brasil”, tem o objetivo de eliminar diferenças culturais e abrir caminho para a liberalização das terras indígenas para o mercado. O potencial de exploração mineral e agropecuário de algumas dessas áreas chega a suscitar em certos setores da sociedade a alegação de que há “muita terra para poucos índios”.
“A crítica está em dizer que os índios não são produtivos, no sentido entendido pelo capitalismo. Porém, a maneira como os não indígenas querem explorar e tirar as riquezas é apenas uma repetição de toda a história do Brasil – uma exploração constante das riquezas naturais, sem grandes resultados. É só tirar riqueza natural para exportar, sem aproveitar o conhecimento existente e, de fato, transformar isso em riqueza”, disse Artionka Capiberibe, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Capiberibe sublinha que o direito do índio à terra foi reiterado na Constituição de 1988, carta que também celebra a diversidade como um valor a ser preservado.





Guerreiros Xikrin se reúnem na aldeia Rapko após expedição na floresta. Fotos - Lalo de Almeida - Folhapress.

Na avaliação de Geraldo Andrello, professor do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com ou sem lei já é possível assistir aos efeitos da simples vontade de liberar as terras indígenas para exploração.
“Houve um aumento de 85% dos alertas de mineração clandestina e de 38% dos alertas de desmatamento clandestino em terras indígenas. Isso só no primeiro semestre de 2019 e embora o governo federal esteja só discutindo e anunciando que vai enviar uma proposta para adulterar as terras indígenas. É um anúncio que vem sendo reiteradamente afirmado”, disse Andrello.
Para os três antropólogos que participaram do programa Ciência Aberta, é preciso destacar que, a despeito do modo de vida próprio e de uma cultura diferente dos não índios, as populações indígenas brasileiras não estão congeladas no tempo.
“Os indígenas são nossos contemporâneos. Há uma ideia que coloca as populações indígenas como tradicionais e nós [não indígenas] como modernos. Na verdade, nem nós somos modernos nem eles são tradicionais no sentido de culturas congeladas no tempo”, disse Capiberibe.





Área desmatada por grileiro dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará 26.08.2019. Fotos - Lalo de Almeida - Folhapress.

E qual seria a definição de um povo ou indivíduo indígena? Há alguns anos, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro propôs a necessidade de uma autodefinição dos povos indígenas. Assim, índio é aquele que é reconhecido por um povo indígena.
“Portanto, não existe um índio, mas uma comunidade que o reconhece como tal. Dessa forma, também não é qualquer comunidade que pode se considerar indígena, pois é necessário um vínculo histórico cultural com as organizações sociais pré-colombianas”, disse Andrello.
De acordo com o pesquisador, quando se fala em povos indígenas está se falando em diversidade. “É arriscado tentar estabelecer parâmetros para indicar o que os povos indígenas, no seu conjunto, têm em comum. Estamos falando em diversidade”, disse.
Talvez, na avaliação dos participantes do programa, a unidade esteja na relação com a natureza. “A relação dos povos indígenas com aquilo que nós chamamos de recursos naturais é completamente oposta às relações que nós ocidentais estabelecemos. Em geral, a nossa relação com os seres da natureza é basicamente de sujeito-objeto. O homem é o sujeito da relação e os seres da natureza são os objetos intencionalmente inertes”, disse.





TI Yanomami, Comunidade Maturac - Mulheres manuseando o Perisi, fungo utilizado na cestaria Yanomami. Fotos - Rogério Assis - ISA.

Luiza Lima Góes Yanomami carrega dois Motorohima, feitos por ela na comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami. Foto - Roberto Almeida - ISA.


Detalhe de um cesto Motorohima feito por Luiza Lima Góes na comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami. Foto - Roberto Almeida - ISA.

Detalhe de Wii com Perisi, na comunidade Ariabu, Terra Indígena Yanomami. Foto - Roberto Almeida - ISA.

Um exemplo que explicaria a relação dos povos indígenas com a natureza está nos Guayapi, povo de língua tupi que vive no Amapá e na Guiana Francesa.
“Eles não têm uma visão colonialista da sua terra. O que vem a ser colonialista? É achar que tudo o que você ocupa está a seu serviço, para o seu bem-estar, que é a visão tradicional da natureza para o ocidente”, disse Carneiro da Cunha.
Dessa forma, explica Carneiro da Cunha, os Guayapi “entendem que a mata, os bichos e as árvores, por exemplo, têm direitos. O rio tem direitos e é um lugar compartilhado, que não foi feito só para usufruto da humanidade, mas de todos os seres que estão ali. Esse entendimento transforma completamente a relação com o que nós chamamos de natureza, que, aliás, é um conceito que nem existe em muitos povos”, disse.
Essa visão de mundo talvez explique por que, na região amazônica, as terras indígenas são mais conservadas que as áreas vizinhas.

Maria Fernanda Ziegler
12 de novembro de 2019 às 8h00

O episódio “Indígenas” do programa Ciência Aberta teve a participação de alunos das universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp), do Instituto Federal de São Paulo e da Escola Estadual Prof. Manuel Ciridião Buarque.
Ciência Aberta é uma parceria da Fapesp com o jornal Folha de S. Paulo. O programa é apresentado por Alexandra Ozorio de Almeida, diretora de redação da revista Pesquisa Fapesp.
O novo episódio pode ser visto na página da Agência Fapesp no Facebook, no YouTube e no site da TV Folha.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Sínodo da Amazônia (Folha de São Paulo)

Erros da Igreja Católica
e o avanço evangélico na Amazônia


Cidade do Vaticano
O bispo dom Wilmar Santin, que atua na região de Itaituba (PA), na fronteira com os estados de Mato Grosso e do Amazonas, afirmou durante o Sínodo da Amazônia, no Vaticano, que erros da própria Igreja Católica levaram ao crescimento das igrejas evangélicas na região amazônica e que é preciso mudar a ação pastoral para reverter a situação.


O bispo dom Wilmar Santin celebra missa em Itaituba, no Pará - Nelson Almeida – 8/set/19/AFP

"Percebo duas falhas nossas: não estamos conseguindo chegar a tempo em todos os lugares onde o povo está, porque tudo está muito centralizado na figura do padre", disse ele nesta quinta-feira (10), durante uma das entrevistas coletivas diárias do sínodo, reunião de religiosos dos nove países da região amazônica com o papa Francisco.
Segundo dom Wilmar, as estratégias para manter, recuperar e atrair católicos na região envolvem mexer na própria forma como a igreja está organizada.
"Precisamos mudar um pouco a estrutura para que a igreja seja mais ágil, que vá mais para frente, não seja tão lenta nas decisões e não dependa só dos padres. Temos que mudar não para competir com os outros, mas para que a nossa missão seja cumprida com maior eficiência", disse.
A frase foi dita depois de dom Wilmar narrar uma conversa que teria ocorrido nas redondezas do garimpo Água Branca, no Pará, com um homem que tinha sido católico, com padres e uma freira na família, mas que, ao se mudar para o garimpo, tornou-se evangélico.
"Eu perguntei para ele o motivo, ele me respondeu: 'Quando eu cheguei aqui, não tinha Igreja Católica. Eu queria escutar a palavra de Deus, fui na Assembleia de Deus e estou lá até hoje'", relatou dom Wilmar. "Não estamos pregando como deveríamos, em todos os lugares. Tanto é que um católico teve que matar a sua fome de escutar a palavra de Deus numa igreja vizinha."

Missa de abertura do Sínodo da Amazônia

Iniciado nesta semana, o Sínodo da Amazônia foi convocado pelo papa Francisco há dois anos para debater a ação da Igreja Católica nos países do bioma, além da situação ambiental e dos moradores da região.
São 258 participantes, sendo 57 bispos brasileiros. A função da assembleia é produzir, até o dia 27 de outubro, um documento que servirá para o papa, meses depois, dar indicações ao clero e aos fiéis.
Reportagem da Folha mostrou nesta semana que, na região Norte do Brasil, o percentual daqueles que se declaram evangélicos já é de 46%, ante 45% de católicos, segundo pesquisa Datafolha de agosto. No país, os números são, respectivamente, de 32% e 51%, com maioria católica. 
Uma das razões para esse cenário é a carência de padres nas áreas de floresta, marcada pelas dificuldades de acesso e grandes distâncias.
É por isso que um dos assuntos mais discutidos durante o sínodo são as alternativas da igreja para se fazer mais presente. Entre elas, permitir padres casados, criar um ministério oficial para as mulheres e incorporar costumes indígenas aos ritos católicos.
Em Itaituba, dom Wilmar atua com a tribo munduruku em uma área de 175 mil quilômetros quadrados, segundo ele. Nos últimos anos, passou a intensificar a ação pastoral católica entre os índios, formando, entre eles, ministros da palavra, responsáveis por fazer pregações nas próprias comunidades.
"Iniciamos em 2017 e temos 48 ministros da palavra pregando na própria língua", afirmou. Segundo ele, são 39 homens e 9 mulheres, todos da tribo. 
O bispo também respondeu a uma jornalista italiana que perguntou sobre a existência do infanticídio nas tribos indígenas —foi a segunda vez que o tema foi mencionado por um jornalista europeu nesta semana, durante as entrevistas coletivas diárias organizadas pelo Vaticano.
Dom Wilmar afirmou que a prática de matar crianças que nasciam com alguma deficiência ou que tinham "mãe solteira" não existia mais entre os munduruku. E questionou: "E os abortos que se fazem por aqui, na civilização?".

Entenda o Sínodo

O que é sínodo
O Sínodo dos Bispos é uma reunião episcopal de especialistas. Convocado e presidido pelo papa, discute temas gerais da Igreja Católica (como juventude, em 2018), extraordinários (considerados urgentes) e especiais (sobre uma região). Instituído em 1965, acontece neste ano pela 16ª vez.

Especial Amazônia
Anunciado em 2017 pelo papa Francisco, o Sínodo da Amazônia trata de assuntos comuns aos nove países do bioma, organizados em dois eixos: pastoral católica e ambiental. Depois de meses de escuta da população local, bispos e demais participantes se reúnem entre 6 e 27 de outubro, no Vaticano.

Para que serve
O sínodo é um mecanismo de consulta do papa. Os convocados têm a função de debater e de fornecer material para que ele dê diretrizes ao clero, expressas em um documento chamado exortação apostólica. As últimas duas exortações pós-sinodais foram publicadas cerca de cinco meses depois de cada assembleia.

Quem participa
O Sínodo da Amazônia reúne 185 padres sinodais (como são chamados os bispos participantes), sendo 57 brasileiros. Além dos bispos da região, há convidados de outros países e de congregações religiosas. Também participam líderes de outras comunidades cristãs, da população e especialistas —no total, há 35 mulheres. O papa costuma presidir todas as sessões.

Principais polêmicas
Este sínodo tem recebido críticas do governo brasileiro, incomodado com o viés ambiental e pressionado pela situação na Amazônia, e da ala conservadora da igreja, que vê como inapropriado o debate sobre a ordenação de homens casados como sacerdotes, a criação de ministérios oficiais para mulheres e a incorporação de costumes indígenas em rituais católicos.

Folha de São Paulo
Michele Oliveira
10 de outubro de 2019 às 15:58

Texto originalmente publicado pela Folha de São Paulo sob o título "Erros da Igreja Católica levaram a avanço evangélico na Amazônia, diz bispo"

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Guardiãs da Amazônia (O Globo)


Guardiãs da Amazônia
Conheça quatro mulheres na linha de frente da defesa da floresta


RIO - Nas últimas semanas, a Amazônia não sai das manchetes dos jornais e dos assuntos mais comentados nas redes sociais. E não é por um bom motivo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que houve um aumento de mais de 80% de incêndios florestais no Brasil neste ano, comparado ao mesmo período de 2018, e que a Amazônia é o bioma mais afetado — concentra mais da metade dos focos.
À frente da defesa da floresta, está uma legião de destemidas mulheres — da filha de Chico Mendes até indígenas, passando por ribeirinhas, pesquisadoras e manejadoras de madeira sustentável.
Celina conversou com quatro delas, cada uma atuante em um estado amazônico diferente: Ângela Mendes, primogênita do lendário ativista, do Acre; a historiadora Ivaneide Bandeira Cardozo, de Rondônia; a indígena Nara Baré, do Amazonas; e a manejadora florestal Maria Creusa da Gama Ribeiro, do Pará.
Elas são quase "aruanas da vida real". Em "Aruanas" , série original do Globoplay lançada no mês passado, a jornalista Natalie (Débora Falabella), a ativista Luiza (Leandra Leal), a advogada Verônica (Taís Araujo) e a estagiária Clara (Thainá Duarte) trabalham na ONG Aruana, que atua na Amazônia investigando e combatendo crimes ambientais.
Conheça abaixo a história das quatro mulheres que, fora da ficção, sofrem com a insegurança sobre o futuro da Amazônia e, por terem uma atuação que confronta interesses econômicos de exploração da floresta, chegaram a se acostumar com ameaças de morte.

'Corre nas minhas veias ser contra injustiças' (Ângela Mendes)

Ângela Mendes tem a defesa da Amazônia em seu DNA. Ela é a filha mais velha de Chico Mendes, líder seringueiro assassinado a mando de um fazendeiro em 1988, em Xapuri, no Acre. Quando o crime aconteceu, Ângela tinha 19 anos e tinha retomado o contato com o pai há poucos anos. Chico Mendes já era, então, reconhecido por defender tanto sua classe de trabalhadores quanto a preservação da floresta e sofria ameaças de morte.
Ângela Mendes, coordenadora do Comitê Chico Mendes Foto: Arquivo
Ela conta que foi criada longe da militância do pai e que, depois da morte dele, levou algum tempo para conseguir se envolver diretamente no movimento ambiental e sindicalista.
— Eu costumo dizer que o sangue puxa. Esse era um mundo a parte do meu, mas você começa a perceber as injustiças. O que corre nas minhas veias é ser contra injustiça, seja qual for. Essa é a minha missão no mundo.
Em 1996, Ângela começou a trabalhar no Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), criado em1981 pelo sindicato presidido por Chico Mendes com o intuito de levar escolas para o interior da floresta. Hoje, aos 49 anos, ela coordena o Comitê Chico Mendes, uma rede de ativistas criada em 1989 para cobrar a punição dos responsáveis pelo crime e que hoje se dedica a divulgar o legado do ambientalista.
— A gente faz um resgate da luta e do legado do meu pai. Desde 2017, o Comitê tem se voltado para uma pegada mais jovem, para chamá-los para esse compromisso, atuando com educação e conscientização ambiental — diz.
Ela também é diretora da Secretaria de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), outra organização fundada por Chico Mendes, em 1986. Sua atuação é voltada para a proposição de políticas voltadas paras as mulheres dessas populações.
— A ideia é que as mulheres passem a ter um protagonismo maior nos territórios. Existe essa dificuldade de respeitar a posição de uma mulher liderando um movimento. Tem muitomachismo. Ainda é um processo que os próprios companheiros têm que perceber — afirma.
Ângela, que vivencia a situação da Amazônia a partir do Acre, critica a postura que avalia como permissiva e até incentivadora dos governos estadual e federal em relação ao desmatamento. Ela lembra a fala do atual governador do Acre, Gladson Cameli (PP), que, no final do mês passado, orientou os produtores rurais a não pagar multas ambientais. Ela considera que a floresta vive uma situação "calamitosa", mas comemora a mobilização recente em prol da Amazônia.
— Mais do que nunca, a gente precisa estar unido e precisa de força.

'Eles perderam o medo de nos ameaçar' (Ivaneide Bandeira Cardozo)

A floresta é a casa da historiadora e ativista Ivaneide Bandeira Cardozo. Até os 12 anos, foi criada na área onde hoje é demarcada a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, e há mais de 30 atua na defesa do meio ambiente e dos povos indígenas da Amazônia.
Hoje, aos 60 anos, ela se divide entre a capital Porto Velho, onde se formou em História e concluiu o mestrado em Geografia, e as aldeias indígenas onde toca projetos pela Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. A frente da organização que ajudou a fundar em 1992, participou de expedições para prender madeireiros ilegais e invasores de terra e chegou a fazer aproximações com povos até então isolados.
— Uma vez pegamos um madeireiro cortando uma castanheira perto da Aldeia Jamari, dos Uru-Eu-Wau-Wau. Eu não estava sozinha, estava com 20 guerreiros. Chamamos a polícia para prendê-lo — conta, acrescentando que, apesar de viver sob ameaça, não sente medo na hora que precisar agir. — Não tenho medo. Sinto medo depois, quando vou pensar no que eu fiz, mas na hora não.
Ivaneide afirma que o fato de ser uma mulher e participar ativamente das ações na floresta não causa estranhamento entre os indígenas. O mesmo não acontece entre os homens brancos que, segundo ela, ainda não estão acostumados com lideranças femininas indo para o “enfrentamento”.
A ativista diz que as ameaças recebidas por ela e sua equipe, e as invasões registradas em terras indígenas onde trabalham, se multiplicaram neste ano. Com o avanço do desmatamento e das queimadas em Rondônia, Ivaneide se preocupa com os povos que ainda vivem isolados. Ela também denuncia o avanço da grilagem no Parque Nacional de Pacaás Novos, cuja área coincide em parte com a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
— Já tinha invasão nos outros governos, mas agora está aumentando absurdamente. Eles perderam o medo de nos ameaçar — afirma. — Tenho uma preocupação muito grande com os índios isolados. O medo é a gente nem saber que esses indígenas foram mortos.
Ivaneide lamenta o fim dos repasses internacionais para o Fundo Amazônia e considera que isso irá prejudicar o trabalho de proteção da floresta. A Associação Kanindé é uma das organizações que já recebeu recursos do fundo para projetos de elaboração e implementação de planos de gestão territorial em terras indígenas.

'Sentimos responsabilidade por nós e pelo mundo' (Nará Baré)

Nará Baré, de 41 anos, é em muitos sentidos pioneira na luta ambiental. Amazonense, ela é a primeira mulher a assumir a liderança da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). E foi na gestão dela, iniciada em 2017, que se alcançou pela primeira vez na história da Coiab uma divisão paritária de líderes: dois homens e duas mulheres na coordenação executiva.
'Passamos a fazer nós mesmos a vigilância do território, que estava sendo cada vez mais negligenciado', diz Nara Baré Foto: Acervo Pessoal
Antes disso, em 2013, a indígena Nara foi indicada para concorrer a um dos postos de coordenadora executiva da entidade por aclamação de todas as mulheres presentes em uma assembleia realizada na época.
— Cerca de 80% da liderança no meio amazônico é formada hoje por mulheres. Somos muitas — afirma ela, hoje coordenadora geral da Coiab. — Mas no início eu sentia discriminação por ser mulher.
A atuação de Nará no Amazonas é para preservar os territórios indígenas, as unidades de conservação e a manutenção dos modos de vida tradicionais dos povos que lá vivem.
— A própria Conferência do Clima da ONU reconhece os nossos modos de vida tradicionais como um grande trunfo para frear as mudanças climáticas. Infelizmente, com as falas do nosso presidente incitando o garimpo e o desmatamento na Amazônia, nós sentimos uma responsabilidade ainda maior. Não só por nós, mas pelo mundo — diz a indígena.
Nara afirma que as leis e a fiscalização ambientais começaram a se flexibilizar no governo Dilma e, posteriormente, também no governo Temer. Já nessa época, organizações indígenas e ribeirinhos passaram a tentar "tapar o buraco" de vigilâncias que deveriam ser feitas pelo Estado.
— Passamos a fazer nós mesmos a vigilância do território, que estava sendo cada vez mais negligenciado. É uma autovigilância. Mas, agora, o desmatamento aumentou exponencialmente, e vemos que o governo não tem como meta a preservação da Amazônia — considera ela. — Ver essas queimadas se alastrando é muito preocupante. A gente percebe que o desmatamento tem aumentado. É mais do que estatística. A gente vê! E, mesmo o mundo todo se dando conta disso, o presidente do Brasil continua com um discurso vazio.

'Eu nunca abaixei minha cabeça' (Maria Creusa da Gama Ribeiro)

Foi aos 12 anos que a paraense Maria Creusa da Gama Ribeiro, hoje aos 50, começou a se interessar por preservação ambiental, sendo levada a reuniões de extrativistas por sua mãe e pelos seus irmãos mais velhos. Hoje, ela é manejadora florestal da reserva Verde Para Sempre, que engloba 1 milhão e 300 mil hectares e é onde vivem cerca de 15 mil pessoas, no estado do Pará. Nesse espaço, retirada ilegal de madeira não tem vez, e é o manejo comunitário que protege a área do desmatamento.
A reserva foi criada há quase 15 anos — a data será completada no próximo 4 de novembro —, e, nessa época, eram comuns as ameaças de morte contra os extrativistas responsáveis pela fundação da unidade de conservação. Com o tempo, a legitimidade da reserva foi se consolidando, e as grandes empresas e latifundiários que tentavam invadir aos poucos se recolheram.
O medo de Maria Creusa é que, agora, com o afrouxamento da fiscalização na região e o discurso antiambientalista do presidente Jair Bolsonaro, as ameaças e a sensação de insegurança voltem.
— Quando começamos a discutir a criação da unidade de conservação, fomos ameaçados, chegamos a sair de nossas casas. Eu fui pessoalmente ameaçada de morte. A gente aprende a conviver com isso. Eu nunca abaixei minha cabeça. Continuo minha luta, essa é minha missão. Mas, de um modo geral, nos últimos anos, a situação estava mais tranquila — conta ela, que tenta ser otimista: — Agora, nossa preocupação é que volte como era antes. Mas tenho fé de que isso não vai acontecer, que é só uma turbulência pela qual estamos passando. Tento pensar assim.
Ela destaca o quanto o manejo comunitário da madeira contribui para que a floresta fique de pé:
— Não existe forma mais correta de se trabalhar dentro da floresta do que por meio do manejo, de modo que você tenha recursos naturais tanto para você quanto para os que vêm depois de você. Essa lógica do manejo sustentável, não predatório, serve para a madeira, para a castanha, para a pesca.
Parte dos recursos da reserva vem da própria produção das famílias e outra parte é captada por meio do Instituto Chico Mendes (ICMBio). Chegava até eles verba oriunda do Fundo Amazônia, mantido pela Noruega e pela Alemanha, que agora está virtualmente extinto.
— Para nós, foi um choque — afirma ela, sobre a retirada de dinheiro do Fundo. — Não sabemos ainda como será o futuro.
Leda Antunes e Clarissa Pains
27 de agosto de 2019 às 14:53

Texto originalmente publicado pelo O Globo sob o título "Guardiãs da Amazônia: conheça quatro mulheres na linha de frente da defesa da floresta"