Terra Indígena Massaco
Expedição da Funai em Rondônia traz
novas revelações sobre índios isolados
Foto de tapiri, acampamento provisório encontrado
durante a expedição. Foto: Acervo Funai.
Durante a
última expedição realizada na TI Massaco, no sudoeste do Estado de Rondônia, em
maio, a equipe da Coordenação de Frente de Proteção Etnoambiental - FPE
Guaporé, unidade descentralizada da Funai que atua na proteção de direitos de
povos indígenas isolados da região, percorreu mais de 217 km pela mata.
Nessa
expedição foi possível registrar diversos acampamentos provisórios (tapiris) de
indígenas isolados, dezenas de objetos da cultura material como redes, flechas,
arcos, machados de pedra e artefatos de argila, além de vestígios de resíduos
alimentares, coleta e pesca.
Se comparado
a outros povos indígenas isolados, esse povo produz poucos artefatos materiais.
O que chama mais a atenção são seus arcos e flechas imensos (arco com mais de 3
metros e flechas maiores que 2,5 metros), motivo pelo qual os indígenas que
vivem próximos, na Terra Indígena Rio Branco, os chamam de "os do arco
grande". Como a Funai não sabe como eles se autodefinem, adota como
referência o termo "índígenas isolados da Terra Indígena Massaco" ou
simplesmente "Indígenas da Massaco".
Na foto, indígenas da TI Rio Branco comparam um arco
comum em sua região (esquerda) com um arco dos indígenas isolados da Massaco
(direita). Foto: Acervo Funai.
A atividade
da Funai nessas longas expedições pela mata exige atenção e refinada
metodologia. É preciso identificar riscos no caminho e vestígios deixados pelos
indígenas isolados. Muitas vezes, vestígios e riscos são uma coisa só, como é o
caso dos estrepes, armadilhas de 20 cm, em média, confeccionadas de madeira de
ipê ou aroeira, apontadas com dente de cutia e enterradas pelos indígenas ao
longo da trilha para proteger o território de invasões. Os estrepes são
instalados em locais estratégicos, e imprescindíveis para o acesso dos que
adentram o território dos índios isolados da Terra indígena (TI) Massaco.
Segundo o
Coordenador-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, Bruno Pereira, o
trabalho desenvolvido na TI Massaco tem sido usado como referência na
construção da política pública para proteção de índios isolados no Brasil.
"As décadas de trabalho exemplar da FPE Guaporé nos permitiu construir um
método de localização e proteção de índios isolados que materializa as modernas
leis brasileiras de respeito a autonomia desses povos", disse Pereira.
Servidor da Funai estuda os tapiris deixados pelos
indígenas da Massaco. Foto: Acervo Funai.
Terra
Indígena Massaco
Com área de
421.895 hectares, a TI Massaco está demarcada e regularizada desde 1998,
consolidando o trabalho da Funai de localização e confirmação dos indígenas
isolados do arco grande, iniciado nos primeiros anos da década de 80. Trata-se
da a primeira terra indígena demarcada no Brasil para usufruto exclusivo de um
povo indígena isolado. Desde então seu monitoramento e proteção é realizado
graças ao trabalho da FPE Guaporé.
A equipe da
FPE Guaporé é coordenada por Altair Algayer desde 2006. Contudo, Algayer atua
pela Funai na região há 27 anos, realizando um trabalho sistemático e minucioso
de acompanhamento dos indígenas Isolados da Massaco.
Todos os
vestígios registrados nas expedições são catalogados, georreferenciados e
sistematizados em um extenso banco de dados, com o qual a FPE Guaporé analisa a
partir das referências de outros povos indígenas contatados ou isolados da
região, atualizando periodicamente a compreensão sobre as dinâmicas de ocupação
do território e as características socioculturais dos indígenas isolados do
arco grande. Esse monitoramento permite a contínua reformulação das estratégias
de proteção a esses indígenas e seu território.
Os estrepes são feitos de madeira de ipê ou aroeira,
apontadas com dente de cutia e enterradas pelos indígenas ao longo da trilha
para proteger o território de invasões. Foto: acevo Funai
As
informações coletadas e analisadas nessa expedição deram ainda mais robustez a
teoria que os índios isolados da TI Massaco dividem-se em ao menos dois
subgrupos, que provavelmente visitam-se, mas que ocupam de forma semelhante e
regular partes distintas da terra indígena. "A expedição foi um sucesso e
permitiu avançar ainda mais na compreensão sobre esse povo isolado, que segue
tendo seu território e sua autodeterminação protegidos pelas práticas de campo
da Funai", disse Altair Algayer.
22 de agosto de 2019 às 16:38
Texto originalmente publicado pela Assessoria de Comunicação e Coordenação-Geral de Índios Isolados da Funai sob o título "Expedição da Funai em Rondônia traz novas revelações sobre índios isolados da Terra Indígena Massaco"
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