Mostrando postagens com marcador Amazônia Pública. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Amazônia Pública. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Importância da Amazônia (Conhecimento Científico)

Amazônia
Importância, riscos e curiosidades

Em 1950, o governo brasileiro criou o conceito de Amazônia Legal, o que abrangeu quase 5 milhões de quilômetros quadrados (dois terços do país) com o objetivo de desenvolver e integrar a região por meio de incentivos fiscais. 
A Amazônia Legal situa-se nos estados do Pará, Rondônia, Acre, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e Amazonas, além de grande parte do Maranhão. A floresta amazônica abrange 40% do território brasileiro e também algumas porções dos territórios da Bolívia, Suriname, Guiana Francesa, Equador, Venezuela, Guiana e Colômbia.
Cientificamente, ela é chamada de floresta latifoliada equatorial por apresentar uma vegetação com folhas largas e grandes e ser localizada próxima a região do Equador.

Amazônia e sua importância
Há muito tempo, a Amazônia é reconhecida como uma grande fonte de reservas naturais e um grande repositório de serviços ecológicos, sendo útil e importante não somente para as comunidades locais e indígenas que ali vivem, mas também como fonte de recursos para o mundo inteiro.
A Amazônia é uma das poucas florestas tropicais preservadas no mundo. Sua biodiversidade é estudada por pessoas do mundo inteiro, porém, à medida que as queimadas nas florestas vão ocorrendo, juntamente com o processo de desmatamento da própria Amazônia, os processos ecológicos que ali acontecem vão sendo destruídos.
A Amazônia constitui-se no maior bioma do Brasil: um território de 4,196.943 milhões de quilômetros quadrados (IBGE, 2004) com 2.500 espécies de árvores (um-terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul), o que traz à tona sua grande importância.
  
Floresta Amazônica

O conjunto de ecossistemas interligados pela floresta amazônica é chamado de domínio ecológico amazônico, que abrange Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Bolívia e Guiana, estendendo-se por 6,9 milhões de quilômetros quadrados.
Cerca de 30% das espécies existentes do planeta se localizam no bioma amazônico, sendo portanto, o mais biodiverso de todos os biomas. No Brasil, mais de 30 mil espécies de plantas, 1,3 mil espécies de aves, 311 espécies de mamíferos, 163 espécies de anfíbios e 1,8 mil espécies de peixes são abrigados na Amazônia. Entre eles estão: Boto, Harpia, Pirarucu, Onça, Suçuarana, Jaguatirica, Jabuti, Ariranha, Tucano e Jiboia.

O grande bioma

Eventualmente, se vê através dos noticiários cada vez mais casos de desmatamentos. Portanto, o futuro da Amazônia está correndo risco. Isso se dá devido às diversas atividades predatórias, como a extração da madeira, a mineração e conversão da floresta amazônica em pastagens para o gado e agricultura.
Entretanto, mesmo que os esforços pela Amazônia estejam acontecendo a perda anual da cobertura florestal permanece em níveis alarmantes. Como resultado, pode ocorrer uma turbulências nas mudanças climáticas da Amazônia que podem influenciar negativamente na redução das chuvas e no aumento das secas. Como resultado, haverá um grande impacto na biodiversidade da região e até nas mudanças climáticas que envolvem o mundo inteiro.
Apesar dos riscos, uma boa notícia é que 80% da floresta amazônica original permanece praticamente intacta. Por isso, ainda há chance de cuidar desse patrimônio de imenso valor para toda a humanidade.

Fogo no Amazonas

Curiosidades sobre a Amazônia

·         Os cientistas calculam que ela exista há, pelo menos, 55 milhões de anos. 
·         Cerca de 400 bilhões de árvores de 16 mil espécies diferentes crescem na floresta. 
·         Existem formigas na Amazônia — do gênero Polyergus — que não só atacam colônias vizinhas como também capturam as inimigas e as levam como escravas. 
·         Há borboletas na Amazônia que bebem as lágrimas das tartarugas da espécie Podocnemis unifilis. 
·         Estima-se que 20% do oxigênio do mundo seja produzido pela Floresta Amazônica.
·         Os primeiros habitantes da floresta amazônica começaram a ocupar a região há, pelo menos, 11,2 mil anos.
·         Existe uma teoria de que a Amazônia seria um enorme pomar deixado por uma antiga civilização que floresceu na região há quase 3 mil anos.
·         Acredita-se que a Amazônia sirva de lar para 2,5 milhões de espécies de insetos e, desses, mais da metade vive nas copas das árvores. 
·         Ainda existem tribos indígenas isoladas e que nunca tiveram contato com civilizações modernas vivendo na Amazônia.
·         A areia do Deserto do Saara é levada pelo vento até a Amazônia — onde é depositada e recarrega os minerais e, assim, ajuda a fertilizar a floresta.

Izis Sousa, 06 de fevereiro de 2020 às 06:00
Fontes: Ecycle, OrgBr, MMA, WWF, MegaCurioso
Imagens: Teatur
(Texto revisado e corrigido por PLVMA)

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Brasil e os Brics (Gazeta do Povo)


Brasil e os Brics
Perspectivas econômicas



Bolsonaro comanda sessão plenária da 11ª Cúpula de Líderes do Brics: parceiros pedem que a ONU preste mais atenção ao Brasil como ator político importante. Foto: Alan Santos/PR

O Bric de 2006 e depois Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a partir de 2010, fez sua 11ª reunião de cúpula em Brasília-DF entre 13 e 14 de novembro de 2019. Dentre as 196 nações do mundo, este seleto quinteto inclui quatro das maiores potências econômicas do mundo e a maior delas (China) só é ultrapassada pelos Estados Unidos da América. A cúpula se deu entre Presidentes (B, R e C) e Primeiros Ministros (I e S) e respectivas comitivas.
Os dados demográficos de 2019 apontam: China, 1,43 bilhões de habitantes; Índia, 1,37; Brasil, 0,21; Rússia, 0,15 e África do Sul, 0,06; no total 3,22 bilhões de pessoas ou seja 42% de toda a população mundial. A maior potência do planeta, os EUA, tem 0,33 bilhões. China e Índia são os dois países de maior área, com 9,7 e 3,3 milhões de km2. A segunda, juntamente com o Paquistão, está geograficamente colada à China. Esta fez construir uma das maravilhas do mundo, ligando-a ao último (que tem 217 milhões de habitantes): Karakoram, a rodovia mais elevada do mundo, pavimentada com dupla mão e quatro pistas; 1.300 km rasgando trechos do Himalaia e seus vales. Uma muito mais curta ramificação a sudoeste faria a conexão tríplice com a Índia. Há dezenas de reatores nucleares operando nestes três países. São ditos para a geração de energia elétrica. Mas também podem se prestar a artefatos bélicos. A união futura do trio na busca de hegemonia econômica mundial é uma perspectiva a se considerar, pois a China, per se, já persegue este objetivo e progressivamente o vai alcançando.
Detenhamo-nos um pouco mais no gigante dos gigantes. Das Dinastia Shang-Zhou (1600 a 256 A.C.), passando por numerosas outras até a mais moderna Qing (1644 - ...), a China deixou um legado muito mais além da acupuntura e soldados-bonecos de terracota. O país foi berço de grandes invenções como a seda e sua tecelagem, a pólvora, a bússola, a tecnologia de fabricação de papel, um primeiro livro em papel de cânhamo e precursor artesanal para linotipia, a goma-laca. Achados arqueológicos revelam dezenas de outros inventos. Em solo chinês se domesticou a soja para fins alimentares. Seguiu-se, então, muito tempo de obscurantismo social e econômico chinês. Nas últimas cinco décadas a China experimentou a mais notável evolução econômica dentre todos os países. De 1968 e um PIB de US$ 0,07 bilhões e um PIB per capita de apenas US$ 91 evoluiu em 1998 para US$ 1,03 trilhões e US$ 829; as cifras de 2018 foram de US$ 13,4 trilhões e US$ 9.370. Somente sobrepujada pelos Estados Unidos com um PIB de 2018 na casa dos US$ 20,49 trilhões e, portanto, um per capita de US$ 62.600. O Brasil muito mais aquém com um PIB de US$ 1,87 trilhões, correspondendo a cada brasileiro US$ 8.905/ano.
Afunilemos o foco em minerais raros, mas é preciso não confundir o elenco de metais raros tipo neodímio para fins tecnológicos modernos com outros minerais de muito maior valor comercial tais como jadeíta, diamante vermelho, serendibita, granada azul e rubi, todos como os mais finos itens de joalherias, nos quais, cada quilate (200 mg) pode custar entre 1 e 3 milhões de dólares.
É de dezessete o número de minerais considerados raros e esta definição tem a ver com suas propriedades físicas e químicas muito peculiares, o que os torna então úteis para aplicações especializadas tais como telefones celulares, computadores, magnetos, lasers, mísseis, aviões invisíveis de combate, óculos de visão noturna e dispositivos hápticos (botões de toque em videogames). Alguns mais conhecidos e já com aplicações bem estabelecidas são o neodímio (magnetos robustos de multi-aplicações desde ferramentas para joalheria, braçadeiras de solda, filtros de óleo, geolocalizadores, ferramentas de montagem e mesmo em aeronáutica espacial para roupas antigravitacionais e coleta de poeira em outros planetas); cério (liga de ferro maleável, polimento de vidros, iluminação via arco-de-carbono na indústria cinematográfica, estocagem de hidrogênio via hidreto); tântalo (anticorrosivo em ligas metálicas e refratários; substituto da platina); hólmio (gerador do mais intenso campo magnético artificial e laser; absorvente de nêutrons da fissão nuclear e moderador nos reatores nucleares; o óxido amarelo na coloração de vidros); ítrio (incrementador da resistência de ligas de alumínio e magnésio; filtro de micro-ondas para lasers; liga de alumínio e ítrio em laser cortador de outras ligas metálicas); térbio (liga para aumentar campos magnéticos; dopador de outros sais para aparelhos de estado sólido; estabilizador de cristal em células combustíveis) e gadolínio (ligas de ferro e cromo para incrementar a resistência a altas temperaturas e oxidação; aplicações de micro-ondas; televisores a cor; como corante de contraste, aumenta e aperfeiçoa as imagens de ressonância nuclear magnética)
Na medicina moderna de diagnóstico por imagens uma das técnicas mais consolidadas é a Ressonância Magnética Nuclear (RMN). No aparelho a fiação do magneto supercondutor tem alguns Km de comprimento e é constituída de uma liga metálica complexa de nióbio, tântalo, titânio e estanho [(NbTaTi)3Sn], a qual, por ser quebradiça, é embebida em cobre para garantir-lhe um reforço. O nióbio tem ainda numerosas aplicações estratégicas tais como aços reforçados na construção de oleodutos, motores e turbinas de aviões a jato, baterias de carros elétricos, lentes óticas, aceleradores de partículas, juntas e implantes ortopédicos, ferramentas de corte, marca-passos e equipamentos de alta resistência ao calor. A cotação internacional gira em torno de US$ 150/kg.
O Brasil detém a quase totalidade das reservas de nióbio do mundo. Suas minas principais estão em Araxá e Tapira, Minas Gerais (75%) operada pela Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e o mineral nativo é a carbonatita (1,5 a 3% de óxido Nb2O5). Segundo a Revista da Fapesp, a mina é de propriedade da família Moreira Salles, coproprietários do Itaú-Unibanco, sendo que 30% foram vendidos a fabricantes de aço chineses, japoneses e sul-coreanos. Outras jazidas estão em São Gabriel da Cachoeira e Presidente Figueiredo no Amazonas (21%) e Catalão e Ouvidor, em Goiás (4%), esta operada pela CMOC Intl. Brazil, uma subsidiária da chinesa China Molybdenum. A reserva total brasileira está estimada em 842 milhões de toneladas métricas. Se espera que, por conta da demanda internacional, a exploração do nióbio amazonense, sob firme supervisão e instrução dos órgãos governamentais pertinentes, resulte por 51% em favor dos indígenas, evitando que em um futuro mais distante, tal qual seus congêneres estadunidenses, se ocupem de cassinos e bebidas alcoólicas.
Os minerais brutos mais comuns englobando terras raras são a monazita e bastnasita. No conjunto, a China detém as maiores reservas do mundo (37%) e, de acordo com USA Geological Survey, ela produziu, em 2018, cerca de 70% de todos os minerais então consumidos internamente e exportados mundo afora. Este mesmo serviço yankee qualifica a exploração de metais raros como “um negócio sujo”, por conta da dispersão das rochas e os meios físicos e químicos drásticos para alterar a ocorrência nativa na direção comercial. Além do que as jazidas usualmente têm um material radioativo – tório – associado aos metais de interesse mais imediato. Austrália, Brasil, Índia e África do Sul também tem boas reservas de minerais raros. Um trio dentro do quinteto BRICS. Os Estados Unidos dispõem apenas de cerca de 1% do elenco das terras raras de maior interesse.
Um adendo radioativo: o potencial do tório (Th) para reatores nucleares à prova de fusão, ou seja, sem acidentes do tipo Chernobyl (Ucrânia) ou Fukushima (Japão). O defensor entusiasmado da ideia é Pedro Jacobi (“O portal do Geólogo”). China, Japão, Inglaterra e Austrália estão nesta mesma seara, pois, o ponto de fusão dos sais de tório é muito mais elevado do que daqueles de urânio e um reator nuclear a Th opera a mais baixa pressão. São os chamados LFTR – Reatores movidos a fluoreto de tório líquido e com menor custo operacional, maior segurança e estabilidade. Os resíduos nucleares são mais facilmente neutralizados e processados sem prejuízo ambiental. Há muito tório nas areias monazíticas das praias brasileiras.
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e com base em pesquisadores do Departamento de Geologia da UFMG, no Brasil existem muitas dezenas de ocorrências de reservas/depósitos tanto de tório quanto de urânio em pelo menos duas dezenas de municípios. A torianita nacional, com um conteúdo de 7% de tório, se situava em 600 mil toneladas, uma das maiores reservas do mundo. As praias do estado do Espírito Santo e suas areias monazíticas são de maior importância. O país com tecnologia mais avançada em reatores nucleares a tório é a Índia (e.g., reatores Kamini, Bhabha e Kakrapar) e também detentora de grandes reservas deste material nuclear. Incidentalmente, a Índia é parceira do Brasil no Brics.
O tório nativo (Th-232), mais comum que o urânio, não é físsil e assim se torna (Th-233) sob bombardeamento com nêutrons. Vantajosamente em relação ao urânio que gera plutônio também radioativo, o tório leva a produtos, quando do descarte do reator, com tempo de meia vida mais curto. O tório (não radioativo) é o revestimento ideal para fios de tungstênio (equipamentos eletrônicos), aditivo para incrementar a resistência mecânica e a altas temperaturas do magnésio e cadinhos de laboratório de análises químicas e aditivo para vidros para elevar o índice de refração com baixa dispersão, além de ser eficiente catalisador em processos industriais tais como o craqueamento de petróleo.
Todavia, as usinas nucleares de geração II (as mais comuns) são numerosíssimas e fazem uso de urânio enriquecido (U-235): são 99 nos USA, 58 na França, 34 na Rússia e 24 na China. Japão e Alemanha estão em processo de desativação das suas. O Brasil conta apenas com Angra I e II e ainda patinando com Angra III. As pastilhas já gastas no reator se convertem em várias formas residuais igualmente radioativas. As sucessivas conversões de enriquecimento do urânio minerado são seus óxidos (UO2 e U3O8) e seu fluoreto gasoso (UF6), por fim reconvertido em dióxido enriquecido (UO2) cujas pastilhas alimentam o reator e de lá, consumada a fissão, saem na forma de vários produtos também radioativos dentre os quais U-234, neptúnio-237, amerício-241 e plutônio-238, este último com tempo de meia vida de 88 anos comparados ao primeiro, 245 anos. No elenco das mais modernas plantas nucleares em construção, de geração III, a China, Rússia e Índia com 25, 9 e 6, respectivamente.
A Austrália detém a maior reserva de urânio do mundo (1,78 milhões de toneladas), seguida do Cazaquistão (0,94) e Canadá (0,7). Coincidentemente o elenco das reservas de países ocupando desde a 4ª até 8ª posições mundiais são exatamente aqueles do Brics, mas em ordem alterada de siglas: África do Sul (0,44), Rússia (0,39), Brasil (0,28), China (0,27) e Índia (0,14) em milhões de toneladas. Em outras palavras, o time do Brics possui 20% das reservas mundiais de urânio. A reserva dos USA é a mesma da Índia, mas se falta fizesse, teriam ou já tem o socorro imediato de seus aliados: Canadá e Austrália.
O urânio não é comercializado segundo o padrão das demais commodities. De acordo com três consultoras internacionais (UxC, LLC e Tarrade Tech) de 1990 o preço/kg baixou de US$ 40–50 para 25–32 o quilograma. Na média, US$ 25/kg. Para o tório a cotação é levemente superior; cerca de US$ 30/kg. Para o neodímio (óxido), US$ 110/kg. O nióbio (metal 99,5% puro) é cotado em US$ 150/kg (o Brasil com > 98% das reservas mundiais – 842 milhões de toneladas – é seguido, muito ao longe, pelo Canadá e Austrália).
O duelo e as retaliações constantes entre os USA (Trump) e China (Xi Jinping) não têm como mola propulsora a importação e a exportação de brinquedos. O real e mais importante pano de fundo é a tecnologia 5G (5ª geração de internet móvel ou sem fio) que explora uma largura de banda entre 100 e 1000 vezes maior que a atual 4G, podendo transmitir mais de 10 gigabytes/segundo, evoluindo a seguir para uma velocidade de até 100 vezes maior, sendo estável e com uma latência reduzida para 1 milissegundo. Trump determinou o bloqueio de exportações norte-americanas para a gigante de telecomunicações chinesa Huawei. A 5G vai interligar fábricas, plantas energéticas, aeroportos, veículos automotores, aviões, universidades, hospitais, sítios de lazer e órgãos governamentais, dentre outros. Telefones celulares operarão instantaneamente. Companhias norte-americanas tais como a Verizon, Sprint, T-mobile e AT&T estão engajadas em consolidar a 5G no curso de 2020 apoiadas nos sólidos investimentos de 2019 e mesmo bem antes. A Nokia finlandesa e a Ericsson sueca não estão dormindo em berço esplêndido no que tange a 5G. Mas um fato concreto é que a Huawei chinesa, já ao final de janeiro de 2019, segundo o colunista Wagner Wakka do jornal Time, anunciou o chip Tiangang compatível com 5G. Uma revolução nas telecomunicações nas várias atividades comerciais e de lazer do ser humano. Dada sua potência mais elevada, o chip consegue controlar até 64 canais de conexão. Engloba também, melhorias revolucionárias em unidades de integração de internet via antenas 50% menores, 25% mais leves e consumindo 21% menos energia. Em tempos atuais, a Huawei já é a maior empresa mundial para equipamentos em telecomunicações, vendendo seus produtos para 170 países. Seu lucro em 2018, subiu para mais de 1 bilhão de dólares. No que toca a telefones celulares (sistema operacional Android) está atrás apenas da Samsung (sul-coreana) mas à frente da Apple (USA). Seus 80.000 empregados sustentam 14 centros de pesquisa conectados mundo afora. Para os brasileiros, com a recente cúpula do Brics não seria improvável que a 5G verde-amarela venha com o carimbo “made in China”.
No mais, o paciente povo brasileiro prossegue na esperança de suas três necessidades mais básicas: saúde, educação e segurança pública sob o guarda-maior, bastante desacreditado: justiça. Votos de que o Brics, a internacionalização e a abertura de mercado recíproca nos sirva na consecução das mesmas. Lembremos aos políticos de todos matizes o que reza a Constituição Federal de 1988 (ora mais acionada para libertar criminosos), em seu art. 7º, inciso VI: “todos trabalhadores urbanos e rurais terão garantido um salário-mínimo fixado em lei, unificado e capaz de atender as necessidades vitais e de sua família como alimentação, moradia e educação”. E seguimos muito longe disto.

José Domingos Fontana, professor emérito da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
10 de dezembro de 2019 às 20:00


terça-feira, 12 de novembro de 2019

Integração e Assimilação (Folha de São Paulo)


Integração Indígena X Assimilação Cultural
Indígenas não querem ser assimilados


Os povos indígenas ocupam o território brasileiro há mais de 10 mil anos. Somam, atualmente, cerca de 900 mil indivíduos, distribuídos em 305 etnias com 274 línguas distintas, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010.
Essa população ocupa 722 áreas de reserva protegidas pela legislação, que correspondem a 13,8% do território e formam uma espécie de enclave de tensão entre duas culturas, dois sistemas de produção, dois “Brasis”.













 

Folha de São Paulo. Fotos - Exposição Sebastião Salgado

“Integração no Brasil é sempre pensada como uma assimilação cultural, o que é absolutamente errado. Os indígenas não querem ser assimilados, poderiam, se quisessem. Mas não é essa a ideia”, disse Manuela Carneiro da Cunha, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), durante o oitavo episódio do programa Ciência Aberta de 2019.
Para a antropóloga, a assimilação cultural, “disfarçada no eufemismo de integrar o Brasil”, tem o objetivo de eliminar diferenças culturais e abrir caminho para a liberalização das terras indígenas para o mercado. O potencial de exploração mineral e agropecuário de algumas dessas áreas chega a suscitar em certos setores da sociedade a alegação de que há “muita terra para poucos índios”.
“A crítica está em dizer que os índios não são produtivos, no sentido entendido pelo capitalismo. Porém, a maneira como os não indígenas querem explorar e tirar as riquezas é apenas uma repetição de toda a história do Brasil – uma exploração constante das riquezas naturais, sem grandes resultados. É só tirar riqueza natural para exportar, sem aproveitar o conhecimento existente e, de fato, transformar isso em riqueza”, disse Artionka Capiberibe, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Capiberibe sublinha que o direito do índio à terra foi reiterado na Constituição de 1988, carta que também celebra a diversidade como um valor a ser preservado.





Guerreiros Xikrin se reúnem na aldeia Rapko após expedição na floresta. Fotos - Lalo de Almeida - Folhapress.

Na avaliação de Geraldo Andrello, professor do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com ou sem lei já é possível assistir aos efeitos da simples vontade de liberar as terras indígenas para exploração.
“Houve um aumento de 85% dos alertas de mineração clandestina e de 38% dos alertas de desmatamento clandestino em terras indígenas. Isso só no primeiro semestre de 2019 e embora o governo federal esteja só discutindo e anunciando que vai enviar uma proposta para adulterar as terras indígenas. É um anúncio que vem sendo reiteradamente afirmado”, disse Andrello.
Para os três antropólogos que participaram do programa Ciência Aberta, é preciso destacar que, a despeito do modo de vida próprio e de uma cultura diferente dos não índios, as populações indígenas brasileiras não estão congeladas no tempo.
“Os indígenas são nossos contemporâneos. Há uma ideia que coloca as populações indígenas como tradicionais e nós [não indígenas] como modernos. Na verdade, nem nós somos modernos nem eles são tradicionais no sentido de culturas congeladas no tempo”, disse Capiberibe.





Área desmatada por grileiro dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará 26.08.2019. Fotos - Lalo de Almeida - Folhapress.

E qual seria a definição de um povo ou indivíduo indígena? Há alguns anos, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro propôs a necessidade de uma autodefinição dos povos indígenas. Assim, índio é aquele que é reconhecido por um povo indígena.
“Portanto, não existe um índio, mas uma comunidade que o reconhece como tal. Dessa forma, também não é qualquer comunidade que pode se considerar indígena, pois é necessário um vínculo histórico cultural com as organizações sociais pré-colombianas”, disse Andrello.
De acordo com o pesquisador, quando se fala em povos indígenas está se falando em diversidade. “É arriscado tentar estabelecer parâmetros para indicar o que os povos indígenas, no seu conjunto, têm em comum. Estamos falando em diversidade”, disse.
Talvez, na avaliação dos participantes do programa, a unidade esteja na relação com a natureza. “A relação dos povos indígenas com aquilo que nós chamamos de recursos naturais é completamente oposta às relações que nós ocidentais estabelecemos. Em geral, a nossa relação com os seres da natureza é basicamente de sujeito-objeto. O homem é o sujeito da relação e os seres da natureza são os objetos intencionalmente inertes”, disse.





TI Yanomami, Comunidade Maturac - Mulheres manuseando o Perisi, fungo utilizado na cestaria Yanomami. Fotos - Rogério Assis - ISA.

Luiza Lima Góes Yanomami carrega dois Motorohima, feitos por ela na comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami. Foto - Roberto Almeida - ISA.


Detalhe de um cesto Motorohima feito por Luiza Lima Góes na comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami. Foto - Roberto Almeida - ISA.

Detalhe de Wii com Perisi, na comunidade Ariabu, Terra Indígena Yanomami. Foto - Roberto Almeida - ISA.

Um exemplo que explicaria a relação dos povos indígenas com a natureza está nos Guayapi, povo de língua tupi que vive no Amapá e na Guiana Francesa.
“Eles não têm uma visão colonialista da sua terra. O que vem a ser colonialista? É achar que tudo o que você ocupa está a seu serviço, para o seu bem-estar, que é a visão tradicional da natureza para o ocidente”, disse Carneiro da Cunha.
Dessa forma, explica Carneiro da Cunha, os Guayapi “entendem que a mata, os bichos e as árvores, por exemplo, têm direitos. O rio tem direitos e é um lugar compartilhado, que não foi feito só para usufruto da humanidade, mas de todos os seres que estão ali. Esse entendimento transforma completamente a relação com o que nós chamamos de natureza, que, aliás, é um conceito que nem existe em muitos povos”, disse.
Essa visão de mundo talvez explique por que, na região amazônica, as terras indígenas são mais conservadas que as áreas vizinhas.

Maria Fernanda Ziegler
12 de novembro de 2019 às 8h00

O episódio “Indígenas” do programa Ciência Aberta teve a participação de alunos das universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp), do Instituto Federal de São Paulo e da Escola Estadual Prof. Manuel Ciridião Buarque.
Ciência Aberta é uma parceria da Fapesp com o jornal Folha de S. Paulo. O programa é apresentado por Alexandra Ozorio de Almeida, diretora de redação da revista Pesquisa Fapesp.
O novo episódio pode ser visto na página da Agência Fapesp no Facebook, no YouTube e no site da TV Folha.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Guardiãs da Amazônia (O Globo)


Guardiãs da Amazônia
Conheça quatro mulheres na linha de frente da defesa da floresta


RIO - Nas últimas semanas, a Amazônia não sai das manchetes dos jornais e dos assuntos mais comentados nas redes sociais. E não é por um bom motivo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que houve um aumento de mais de 80% de incêndios florestais no Brasil neste ano, comparado ao mesmo período de 2018, e que a Amazônia é o bioma mais afetado — concentra mais da metade dos focos.
À frente da defesa da floresta, está uma legião de destemidas mulheres — da filha de Chico Mendes até indígenas, passando por ribeirinhas, pesquisadoras e manejadoras de madeira sustentável.
Celina conversou com quatro delas, cada uma atuante em um estado amazônico diferente: Ângela Mendes, primogênita do lendário ativista, do Acre; a historiadora Ivaneide Bandeira Cardozo, de Rondônia; a indígena Nara Baré, do Amazonas; e a manejadora florestal Maria Creusa da Gama Ribeiro, do Pará.
Elas são quase "aruanas da vida real". Em "Aruanas" , série original do Globoplay lançada no mês passado, a jornalista Natalie (Débora Falabella), a ativista Luiza (Leandra Leal), a advogada Verônica (Taís Araujo) e a estagiária Clara (Thainá Duarte) trabalham na ONG Aruana, que atua na Amazônia investigando e combatendo crimes ambientais.
Conheça abaixo a história das quatro mulheres que, fora da ficção, sofrem com a insegurança sobre o futuro da Amazônia e, por terem uma atuação que confronta interesses econômicos de exploração da floresta, chegaram a se acostumar com ameaças de morte.

'Corre nas minhas veias ser contra injustiças' (Ângela Mendes)

Ângela Mendes tem a defesa da Amazônia em seu DNA. Ela é a filha mais velha de Chico Mendes, líder seringueiro assassinado a mando de um fazendeiro em 1988, em Xapuri, no Acre. Quando o crime aconteceu, Ângela tinha 19 anos e tinha retomado o contato com o pai há poucos anos. Chico Mendes já era, então, reconhecido por defender tanto sua classe de trabalhadores quanto a preservação da floresta e sofria ameaças de morte.
Ângela Mendes, coordenadora do Comitê Chico Mendes Foto: Arquivo
Ela conta que foi criada longe da militância do pai e que, depois da morte dele, levou algum tempo para conseguir se envolver diretamente no movimento ambiental e sindicalista.
— Eu costumo dizer que o sangue puxa. Esse era um mundo a parte do meu, mas você começa a perceber as injustiças. O que corre nas minhas veias é ser contra injustiça, seja qual for. Essa é a minha missão no mundo.
Em 1996, Ângela começou a trabalhar no Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), criado em1981 pelo sindicato presidido por Chico Mendes com o intuito de levar escolas para o interior da floresta. Hoje, aos 49 anos, ela coordena o Comitê Chico Mendes, uma rede de ativistas criada em 1989 para cobrar a punição dos responsáveis pelo crime e que hoje se dedica a divulgar o legado do ambientalista.
— A gente faz um resgate da luta e do legado do meu pai. Desde 2017, o Comitê tem se voltado para uma pegada mais jovem, para chamá-los para esse compromisso, atuando com educação e conscientização ambiental — diz.
Ela também é diretora da Secretaria de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), outra organização fundada por Chico Mendes, em 1986. Sua atuação é voltada para a proposição de políticas voltadas paras as mulheres dessas populações.
— A ideia é que as mulheres passem a ter um protagonismo maior nos territórios. Existe essa dificuldade de respeitar a posição de uma mulher liderando um movimento. Tem muitomachismo. Ainda é um processo que os próprios companheiros têm que perceber — afirma.
Ângela, que vivencia a situação da Amazônia a partir do Acre, critica a postura que avalia como permissiva e até incentivadora dos governos estadual e federal em relação ao desmatamento. Ela lembra a fala do atual governador do Acre, Gladson Cameli (PP), que, no final do mês passado, orientou os produtores rurais a não pagar multas ambientais. Ela considera que a floresta vive uma situação "calamitosa", mas comemora a mobilização recente em prol da Amazônia.
— Mais do que nunca, a gente precisa estar unido e precisa de força.

'Eles perderam o medo de nos ameaçar' (Ivaneide Bandeira Cardozo)

A floresta é a casa da historiadora e ativista Ivaneide Bandeira Cardozo. Até os 12 anos, foi criada na área onde hoje é demarcada a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, e há mais de 30 atua na defesa do meio ambiente e dos povos indígenas da Amazônia.
Hoje, aos 60 anos, ela se divide entre a capital Porto Velho, onde se formou em História e concluiu o mestrado em Geografia, e as aldeias indígenas onde toca projetos pela Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. A frente da organização que ajudou a fundar em 1992, participou de expedições para prender madeireiros ilegais e invasores de terra e chegou a fazer aproximações com povos até então isolados.
— Uma vez pegamos um madeireiro cortando uma castanheira perto da Aldeia Jamari, dos Uru-Eu-Wau-Wau. Eu não estava sozinha, estava com 20 guerreiros. Chamamos a polícia para prendê-lo — conta, acrescentando que, apesar de viver sob ameaça, não sente medo na hora que precisar agir. — Não tenho medo. Sinto medo depois, quando vou pensar no que eu fiz, mas na hora não.
Ivaneide afirma que o fato de ser uma mulher e participar ativamente das ações na floresta não causa estranhamento entre os indígenas. O mesmo não acontece entre os homens brancos que, segundo ela, ainda não estão acostumados com lideranças femininas indo para o “enfrentamento”.
A ativista diz que as ameaças recebidas por ela e sua equipe, e as invasões registradas em terras indígenas onde trabalham, se multiplicaram neste ano. Com o avanço do desmatamento e das queimadas em Rondônia, Ivaneide se preocupa com os povos que ainda vivem isolados. Ela também denuncia o avanço da grilagem no Parque Nacional de Pacaás Novos, cuja área coincide em parte com a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
— Já tinha invasão nos outros governos, mas agora está aumentando absurdamente. Eles perderam o medo de nos ameaçar — afirma. — Tenho uma preocupação muito grande com os índios isolados. O medo é a gente nem saber que esses indígenas foram mortos.
Ivaneide lamenta o fim dos repasses internacionais para o Fundo Amazônia e considera que isso irá prejudicar o trabalho de proteção da floresta. A Associação Kanindé é uma das organizações que já recebeu recursos do fundo para projetos de elaboração e implementação de planos de gestão territorial em terras indígenas.

'Sentimos responsabilidade por nós e pelo mundo' (Nará Baré)

Nará Baré, de 41 anos, é em muitos sentidos pioneira na luta ambiental. Amazonense, ela é a primeira mulher a assumir a liderança da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). E foi na gestão dela, iniciada em 2017, que se alcançou pela primeira vez na história da Coiab uma divisão paritária de líderes: dois homens e duas mulheres na coordenação executiva.
'Passamos a fazer nós mesmos a vigilância do território, que estava sendo cada vez mais negligenciado', diz Nara Baré Foto: Acervo Pessoal
Antes disso, em 2013, a indígena Nara foi indicada para concorrer a um dos postos de coordenadora executiva da entidade por aclamação de todas as mulheres presentes em uma assembleia realizada na época.
— Cerca de 80% da liderança no meio amazônico é formada hoje por mulheres. Somos muitas — afirma ela, hoje coordenadora geral da Coiab. — Mas no início eu sentia discriminação por ser mulher.
A atuação de Nará no Amazonas é para preservar os territórios indígenas, as unidades de conservação e a manutenção dos modos de vida tradicionais dos povos que lá vivem.
— A própria Conferência do Clima da ONU reconhece os nossos modos de vida tradicionais como um grande trunfo para frear as mudanças climáticas. Infelizmente, com as falas do nosso presidente incitando o garimpo e o desmatamento na Amazônia, nós sentimos uma responsabilidade ainda maior. Não só por nós, mas pelo mundo — diz a indígena.
Nara afirma que as leis e a fiscalização ambientais começaram a se flexibilizar no governo Dilma e, posteriormente, também no governo Temer. Já nessa época, organizações indígenas e ribeirinhos passaram a tentar "tapar o buraco" de vigilâncias que deveriam ser feitas pelo Estado.
— Passamos a fazer nós mesmos a vigilância do território, que estava sendo cada vez mais negligenciado. É uma autovigilância. Mas, agora, o desmatamento aumentou exponencialmente, e vemos que o governo não tem como meta a preservação da Amazônia — considera ela. — Ver essas queimadas se alastrando é muito preocupante. A gente percebe que o desmatamento tem aumentado. É mais do que estatística. A gente vê! E, mesmo o mundo todo se dando conta disso, o presidente do Brasil continua com um discurso vazio.

'Eu nunca abaixei minha cabeça' (Maria Creusa da Gama Ribeiro)

Foi aos 12 anos que a paraense Maria Creusa da Gama Ribeiro, hoje aos 50, começou a se interessar por preservação ambiental, sendo levada a reuniões de extrativistas por sua mãe e pelos seus irmãos mais velhos. Hoje, ela é manejadora florestal da reserva Verde Para Sempre, que engloba 1 milhão e 300 mil hectares e é onde vivem cerca de 15 mil pessoas, no estado do Pará. Nesse espaço, retirada ilegal de madeira não tem vez, e é o manejo comunitário que protege a área do desmatamento.
A reserva foi criada há quase 15 anos — a data será completada no próximo 4 de novembro —, e, nessa época, eram comuns as ameaças de morte contra os extrativistas responsáveis pela fundação da unidade de conservação. Com o tempo, a legitimidade da reserva foi se consolidando, e as grandes empresas e latifundiários que tentavam invadir aos poucos se recolheram.
O medo de Maria Creusa é que, agora, com o afrouxamento da fiscalização na região e o discurso antiambientalista do presidente Jair Bolsonaro, as ameaças e a sensação de insegurança voltem.
— Quando começamos a discutir a criação da unidade de conservação, fomos ameaçados, chegamos a sair de nossas casas. Eu fui pessoalmente ameaçada de morte. A gente aprende a conviver com isso. Eu nunca abaixei minha cabeça. Continuo minha luta, essa é minha missão. Mas, de um modo geral, nos últimos anos, a situação estava mais tranquila — conta ela, que tenta ser otimista: — Agora, nossa preocupação é que volte como era antes. Mas tenho fé de que isso não vai acontecer, que é só uma turbulência pela qual estamos passando. Tento pensar assim.
Ela destaca o quanto o manejo comunitário da madeira contribui para que a floresta fique de pé:
— Não existe forma mais correta de se trabalhar dentro da floresta do que por meio do manejo, de modo que você tenha recursos naturais tanto para você quanto para os que vêm depois de você. Essa lógica do manejo sustentável, não predatório, serve para a madeira, para a castanha, para a pesca.
Parte dos recursos da reserva vem da própria produção das famílias e outra parte é captada por meio do Instituto Chico Mendes (ICMBio). Chegava até eles verba oriunda do Fundo Amazônia, mantido pela Noruega e pela Alemanha, que agora está virtualmente extinto.
— Para nós, foi um choque — afirma ela, sobre a retirada de dinheiro do Fundo. — Não sabemos ainda como será o futuro.
Leda Antunes e Clarissa Pains
27 de agosto de 2019 às 14:53

Texto originalmente publicado pelo O Globo sob o título "Guardiãs da Amazônia: conheça quatro mulheres na linha de frente da defesa da floresta"